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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Manifesto 'Caranguejos com cérebro'



Leia o manifesto 'Caranguejos com cérebro'

        Texto foi escrito por Fred Zero Quatro, da banda Mundo Livre S/A, em 1992. Este Manifesto abriu caminho para o movimento manguebeat no Recife. Movimento encabeçado pelo também genial e falecido Chico Science.

Mangue, o conceito.


       Estuário. Parte terminal de rio ou lagoa. Porção de rio com água salobra. Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos das marés. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo.

     Estima-se que duas mil espécies de microorganismos e animais vertebrados e invertebrados estejam associados à vegetação do mangue. Os estuários fornecem áreas de desova e criação para dois terços da produção anual de pescados do mundo inteiro. Pelo menos oitenta espécies comercialmente importantes dependem do alagadiço costeiro.

       Não é por acaso que os mangues são considerados um elo básico da cadeia alimentar marinha. Apesar das muriçocas, mosquitos e mutucas, inimigos das donas-de-casa, para os cientistas são tidos como símbolos de fertilidade, diversidade e riqueza.

Manguetown, a cidade


        A planície costeira onde a cidade do Recife foi fundada é cortada por seis rios. Após a expulsão dos holandeses, no século XVII, a (ex)cidade *maurícia* passou desordenadamente às custas do aterramento indiscriminado e da destruição de seus manguezais.

      Em contrapartida, o desvairio irresistível de uma cínica noção de *progresso*, que elevou a cidade ao posto de *metrópole* do Nordeste, não tardou a revelar sua fragilidade.

      Bastaram pequenas mudanças nos ventos da história, para que os primeiros sinais de esclerose econômica se manifestassem, no início dos anos setenta. Nos últimos trinta anos, a síndrome da estagnação, aliada a permanência do mito da *metrópole* só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de miséria e caos urbano.

Mangue, a cena


        Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.

        Em meados de 91, começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de idéias pop. O objetivo era engendrar um *circuito energético*, capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama.

        Hoje, Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em hip-hop, colapso da modernidade, Caos, ataques de predadores marítimos (principalmente tubarões), moda, Jackson do Pandeiro, Josué de Castro, rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos, midiotia, Malcom Maclaren, Os Simpsons e todos os avanços da química aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência.

        Bastaram poucos anos para os produtos da fábrica mangue invadirem o Recife e começarem a se espalhar pelos quatro cantos do mundo. A descarga inicial de energia gerou uma cena musical com mais de cem bandas. No rastro dela, surgiram programas de rádio, desfiles de moda, vídeo clipes, filmes e muito mais. Pouco a pouco, as artérias vão sendo desbloqueadas e o sangue volta a circular pelas veias da Manguetown.



Fred Zero Quatro

        Expus este texto para explicitar uma gama de valores voltados ao enriquecimento cultural e social. Contra a expansão desenfreada da industrialização...


Pensemos...

sábado, 2 de abril de 2011

A Contradição contra a Truculência

Eu acho engraçado como certos "críticos" entram em contradição de uma maneira tão estúpida e de fácil percepção para quem acompanha algo sobre certos filmes. Sem enrolar mais falo de Tropa de Elite (2007) do diretor José Padilha que retrata a sua maneira, a luta contra o tráfico de drogas e a corrupção policial existente. A contradição ficara evidente no momento em que percebi que alguns dos mesmos idiotas que criticaram seu filme anterior (Ônibus 174) de ser uma defesa a marginalidade do seqüestrador, chamaram o Tropa de Elite de Fascista por, exatamente, tratar alguns favelados como marginais. Ora porra!
          
           A minha crítica é mais um pequeno desabafo acerca de uma parcela dessa raça escrota de críticos cinematográficos. Muitos deles ainda vivem nos anos sessenta onde imperava a censura, e pra mim o que o Padilha fez foi o que um Glauber quis fazer e não pôde por causa da censura. Uma crítica contundente feita pelo Padilha é ainda mais forte no segundo longa Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro. O problema do período cinemanovista é exatamente sua maior qualidade, se não houvesse censura e a imbecilidade ditatorial será que os cineastas daquele período teriam se debruçado a compor tais obras de cunho político tão forte? O Padilha teve a sorte de ter a liberdade que quisesse e lança mão de uma das melhores críticas que já vi neste seu ultimo filme. Que fique claro, o filme mostra que a violência contra a sociedade funciona sim, mas de certa forma, como um paliativo. Um governo censurador não progride de maneira eficaz por muito tempo, alguém sempre acorda, o filme não retrata a violência como uma coisa boa sem precedentes. Quem acha isso, fala pro Nascimento e pro Matias.

          É sempre difícil respeitar uma opinião contrária ao que temos como nível de qualidade, mas certas vezes palavras sem fundamento são colocadas apenas pela indignação de certos indivíduos pela exacerbação de uma obra, que estes filhos da puta afirmam que estes elogios a obra que criticam são maneiras a se causar um esquecimento de obras anteriores e acabam por citar diretores do cinema novo, cinema marginal e o escambal. Porra, o fato de o Tropa 2 ser um grande filme não vai denegrir outras obras não. Pelo contrário, pode até enaltecê-las. Ora, quem viu o filme sabe que muitas idéias de crítica social estão presentes desde os já citados anos sessenta que foram embutidas na obra. Logicamente alguém vai esculhambar a truculência do Nascimento por exemplo, mas para um publico mais exigente como o nosso o choque será maior caso o personagem seja tratado assim. E essa truculência sempre mostra seu preço.

          Tenho uma enorme admiração por quem pretende viver sem concessões, e que apesar das dificuldades que lhe são impostas continue a lutar pelo que acredita combatendo tudo e todos para se manter vivo e alerta. O Tenente-coronel Nascimento transcende o heroísmo, ele se doa como protetor de uma sociedade hipócrita, que sua burocracia corrupta utiliza-se cada vez mais de suas "articulações de interesses escrotos" (como é dito pelo próprio Nascimento) para manter a população como um bando de cachorros aguardando ordens esperando que alguma coordenação social vá emergir daquele emaranhado de ladrões. Vã esperança. Mas o que seria deles sem essa esperança? Nascimento tenta, a sua forma, dar esta esperança a eles, mas percebe que o caralho do sistema é muito pior do que se imaginara.  Um personagem de tal composição, densidade e força representa o cinema brasileiro e o cidadão brasileiro. Sua luta de maneira contígua, independente das conseqüências a que isso acarrete, é louvável, visto que muitos brasileiros honestos lutam pelo bem estar social contra essa corja de verdadeiros vagabundos de colarinho branco que nós os denominamos como representantes de nossos interesses. A culpa é nossa sim e dizer esta obviedade não cabe mais a uma perda de um tempo maior aqui.

          Sou a favor de todo tipo de cinema que é feito, pois a arte não deve ter limites. Sempre há um publico a ser atingido, se uma pintura é idiota e incompetente, ótimo, é uma opinião, mas quem sou eu ou um de vocês que pode dizer que ela não deveria existir? Foda-se este pensamento quadrado. Quando falei inicialmente de alguns críticos que moldavam suas frases contra certos aspectos dos filmes citados, tive a vontade de tecer algumas palavras exatamente porque a liberdade artística é algo a ser apreciado, independente do que se deve pensar acerca de outras obras. Que o conjunto cinematográfico deva se expandir e não se criar um nicho representativo por idiotinhas pseudocríticos de merda.