Postagem em destaque

1964: O Brasil Entre Armas e Livros (2019)

Documentário revisionista que busca impor uma narrativa histórica própria que deslegitime a vasta bibliografia sobre o tema, consid...

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Gangues de nova York (2002)



O tal Caldeirão infernal visto da, e, pela bagaceira. A formação de uma nação moderna com todas as suas mistificações civilizatórias baseadas no sangue pútrido é metamorfoseada em cinema. E num cinema escroto.

Por Ted Rafael Araujo Nogueira
Nota 10,0

Dirigido por Martin Scorsese


Scorsese faz aqui talvez seu projeto mais pessoal, visto que desde os anos 70 buscava criar este monstro desde a leitura de “As Gangues de Nova York - Uma história informal do submundo de Nova York” de Herbert Asbury. A trajetória do seu cinema e de sua vivência numa Nova York suburbana e virulenta deram resultado neste filme. Aqui, porém, Scorsese aprofunda sua visão de suburbanidade e vai em busca do caldeirão no qual fora construída esta cidade. E é neste espectro que reside a violência histórica de seu filme. A história vista de baixo, corrente historiográfica de base inglesa nos quais alguns dos seus maiores expoentes seriam Edward Palmer Thompson e Christopher Hill. Corrente esta que tinha como epistemologia um olhar tangenciado através de um estudo sobre os fodidos e onde os mesmos estariam como agentes da história. Scorsese usa isto em similitude onde, além somente das hierarquias políticas em plena guerra civil, o foco aqui é o forjar de uma cidade sob o sangue de seus conterrâneos, sejam eles negros, chinas, brancos ou imigrantes irlandeses. Da prostituta ao político infame em vozes diversas numa grande bagaceira.

A caracterização animalesca da xenofobia grossamente justificada na existência de seus contraditórios. Uma cidade construída por todos. A natureza instintiva do humano somada à construção histórica decisiva diante o caos. Em meio a uma guerra Civil violenta, Guerra de Secessão, são mostradas as gangues urbanas que viriam a formar aquela cidade. Uma cidade feita por fodidos, como qualquer outra grande metrópole. Em conflito com a história tradicional ocidental que em tantos países dera primazia às lideranças políticas e empreendedores outros esquecendo-se da força do povão que levantara as cidades e que as transformara socioculturalmente.

A história de vingança e redenção servem de fio condutor prático, usual e coerente com a predisposição histórica americana dentro de um mosaico criacionista urbano. Onde a figura de Amsterdam (Leonardo DiCaprio) tem um percurso de vingança e redescoberta de universo no qual vamos a reboque conhecer uma esculhambação sociocultural e política pungente e doentia. Uma confusão imagética - na exposição abrupta dos mais variados tipos sociais - e sonora - na confabulação e conurbação da música diegética e extradiegética - como usufrutos de linguagem onde se encara o caos de uma ebulição urbana. E é à formação desta urbe pela qual se debruça Scorsese. A conduta da trama principal serve de linha dramatúrgica narrativa ao universo proposto. A putaria que vale aqui. A condição destas figuras existirem e atuarem depende, obviamente, do universo proposto, e por mais caricaturas e overactings que possam perambular pela fita, estes fazem parte de uma porralouquice pulsante e possível. Scorsese entende isso e usa o exagero desta premissa em prol da marretada ideológica e prática que possibilitou o vômito destrutivo de uma nova York em formação e demoniacamente sedenta. Falando em Diabo a religiosidade também é verificada como mote moral pelos conflitantes desde o início do longa e eloquentemente usada pela sede da sangria, como tanto já fora. Já que sabemos que Deus(es) é um chapa figura cativa nas justificativas humanas pra violência pregressa, seja ela física ou ideológica. O conflito religioso entre o Açougueiro e o Pastor Vallon (eximiamente bem interpretado por Liam Neeson, justificando a eterna lembrança de seu detrator diante da vitória) propõe bem esta prerrogativa onde o comando papal da Igreja católica defendido por ele é rechaçado pelo açougueiro protestante, sempre o Deus querido na moral sangrenta. Os Irlandeses já vinham de um conflito religioso em seu país e outro os esperava na sua chegada aos EUA. E ambos juram amores a Deus e pedem a ele que delicadamente abençoe seus machados e cutelos pros desmembramentos a seguir.

Um pequeno adendo técnico cito. Scorsese com sua perícia compõe um plano-sequência genial que decodifica uma linha temporal específica sobre a guerra na participação dos irlandeses. A chegada ao porto nova-iorquino dos imigrantes, dali para guerra e em seguida para o caixão dos soldados. A questão de classes aqui é ressaltada no que tange ao recrutamento compulsório imposto a população pobre diante da taxa na qual os ricos pagam para ficar fora do conflito. Desde o porto os imigrantes já são convocados a defender o país que supostamente lhes acolhe. Uma conjuntura hiperbólica teatralizada e intrigante sobre a necessidade e o usufruto dos fodidos nova-iorquinos, ou daqueles que quisessem ser.

Ordem e Caos. O marco civilizatório é tratado como necessidade xenófoba nativista pelos ultranacionalistas e como sobrevivência inquestionável pelos imigrantes, o que nos traz a uma estrutura de conflito imponderável que seria tão somente resolvida pelo estado quando a balburdia radicalizara-se por sobre as elites, quando os fodidos não aguentam mais os desígnios da pobreza exploratória e a obrigação de guerra. Luta de classes. Porradaria. Todos contra todos. A violência como expiação, resistência e modus operandi deste suposto marco civilizatório imposto. A dialética aqui se faz presente. A disposição política na qual um paradoxo é exposto e temporariamente desfeito por uma conjuntura de poder, interessante à obra, é a relação entre o ultraconservador nacionalista e racista-extremo William “Bill O Açougueiro” Cutting, Daniel Day-Lewis em estupenda personificação flagrante e brutal do nacionalista urbano extremista, e o democrata populista, oportunista e altamente pilantroso William Tweed, no qual Jim Broadbent diverte-se com toda a canalhice de um suposto democrata moderno ao qual só interessa o voto e que visa mostrar ao Açougueiro que ele está ultrapassado e que o futuro depende mais das alianças política em amálgama escusas do que a violência de comando pelo medo. A política necessita das bases populares que instituem a violência mas faz do usufruto da contrapropaganda com a elite para deslegitimar esta mesma violência. O vai-e-vem das alianças depende incomensuravelmente da manutenção de uma imagem democrática acima de tudo que independe da práxis da mesma em relação voto, e sim da contagem escusa dos mesmos. Pobres úteis na pilantragem do voto. Política em seus usos de valores existentes apenas como uma puta farsa em prol de resultados próprios. Uma permanência histórica aos moldes atuais pelo globo da ala democrática. Levando em consideração os períodos, tempos e espaços históricos dou-me a liberdade para o frescar, a figura de um possível vírus pré-pmdbista pode ser notado na figura de Tweed por puro sarro. Um microcosmo partidário da democracia moderna.

Por fim há aqui um inferno de escrotos formando uma cidade. Não há glória. Não há vencedores. A anonimização feraz deste povo, que construíra a cidade, é ressaltada no plano final. A história tradicional continua e o povão nas entocas assim fica.

John Wick - Um Novo Dia para Morrer (2017)


Baba Yaga. A porra do caralho do Baba Yaga. Segunda e grosseira incursão escrota de John Wick no cinema. A continuidade do esculhambatório perpetrado por Wick em seu universo peculiar. Não vou perder tempo fazendo sinopse de bosta nenhuma. 

Por Ted Rafael Araujo Nogueira
Nota 9,0

Dirigido por Chad Stahelski e Derek Kolstad.

Chad Stahelski e seus comparsas são cientes do que querem e moldam sua obra com uma monumentalidade intrínseca do gênero. As grosserias reverberadas por atitudes infames. As consequências. Todo um conjunto de regras como definição de uma existência específica. A vingança extenuada é re-transformada em modo de vida. O cara voltou e não para uma fuleiragem temporária, mas agora é movido pela sobrevivência e no urro de raiva John sabe que só sai deste universo morto. Mas que se foda a vagabunda prostituída da morte. Se vier que seja à sua maneira.

Logo de cara Chad Stahelski estraçalha. John em seu modus operandi ligado materialmente ao que restou de sua vida na curta temporalidade de aposentado. Seus pertences primordiais e fetichistas. Um deles, o carro. Aqui o diretor demonstra insuspeito trato imagético em cenas cruas, tais quais existem no primeiro, e, assim como este último, a ideia não é revolucionar nada, mas sim ser claro na proposta. E a execução é concatenada por excelência. Uma ambiência já conhecida. Já sabemos quem é o Baba Yaga então aqui expande-se o universo para um trato digno que o cinema de ação merece. Aqui não tem masturbação desnecessária de linguagem. Tem uma conscientização identitária em Wick assim como a pertença e representatividade concisa de uma brutalidade de um filme de ação. 

O sentimento de pertença ao vil, na verdade, nunca deixou de existir em John, sua esposa seria um bálsamo para uma suposta vida torpe, e sem sua mulher a linha tênue para o retorno da aposentadoria era óbvia. Consciente desta possibilidade Chad Stahelski a explora trazendo outro ponto caro em filmes com esta envergadura de proposição em perspectiva, carregando uma aura clássica dos westerns aos filmes de ação ignorante das décadas de 70 e 80: O código de Conduta. A honra entre os animais. As regras. Quando John visa quebrá-las seu universo embrutece e o traz para o seu colo de sangue, tripas e miolos. Uma maior contribuição neste sentido, se é que é possível O pacto de sangue como motivação pra John foi uma decisão suja é sabia da direção, porra, para que coisa mais cafajeste do que esse troço mafioso de honra entre assassinos, através do sangue ainda mais? John é uma força brutal de determinação e violência e, como tal, existe mediante o procedimento de uma vida árdua de regras duras para o bem e para o mal. Códigos seguidos e homenageados desde o primeiro filme, onde um estilo de vida é seguido no respeito e defesa de sua individualidade instintiva dialeticamente com a racionalidade louca de um assassino em sua forma. Tal qual Marcus (Willem Dafoe) no primeiro longa luta para morrer à sua maneira. Gianna Marchesi (Claudia Gerini) assim o repete. Identidade. Pacto de sangue e vísceras. 

"I'm Back" porra. 

Identidade de novo. John é um copo vazio quando se porta na aposentadoria, o caminho para a mesma é vermelho e o copo enche-se de sangue e sabemos quem é John Wick e como a escapatória final deste universo parece fugaz e rasteira. Aqui um rambo moderno, onde similar ao Rambo 4, John Wick tem consciência do que sabe ser de melhor, mesmo que isto custe sua vida. Que se fodam as existentes lamentações. O universo clama? Nada mais interessante do que o clamor do retorno consciente num mundo de espelhos. Decididamente brilhante a homenagem a “Operação Dragão” com o Bruce Lee. Ou seria à Orson Welles? Junção caralho. Até nas referências o filme diversifica-se do óbvio. Os espelhos não servem aqui para confundir, mas, sim, confrontar-se e estabelecer o controle de si nas suas prerrogativas primordiais de existência. Voltar botando pra foder. 

Esta formatação identitária me soa como uma metalinguagem de um cinema sujo, sombrio e necessário, principalmente em tempos politicamente corretos e covardes. Onde educação, cultura e sociabilidade tem de passar pelo crivo das amarras do correto, onde se conurba/conturba e manobra o meio social. Foda-se. O filme busca contrariar a estupidez e sem perder espaço mercadológico. A substância é mantida e todo o fetichismo, no qual citei somente o carro anteriormente, mas perambula a obra inteira. Os apetrechos de preparação ante o holocausto, as perseguições de carro, a extensão fálica dos armamentos. Estes fetiches são usados de forma seca, sem desvios éticos ou frescuras outras. Orgulhosamente. Aqui é filme de ação cacete. Botando o pau na mesa.

O absurdo funcional da crueza de sentido e forma da ação impressiona. Keanu Reeves encarna um personagem duro que dentro de seu escopo físico tem uma presença primordial. Os trejeitos insinuados detalhadamente são méritos invejáveis. A determinação do ator é premiada pela direção segura. Não é um cala boca pros críticos mediante suas performances dramáticas já criticadas. Simplesmente um “vai te lascar” que o lance aqui é na porrada. 

Inteligentemente o filme expande seu escopo espacial de forma a dar margens à possibilidades de ação que serão exploradas. Esta expansão serve como uma proposta de ação numa ironia sagaz. O instintivo bárbaro e brutal destituindo a clave civilizatória na qual gângsteres escrotos propõem uma paz e domínio após o sangue de milhares estabelecidos nas eras. Tais quais tantos figurões ocidentais, historicamente, assim já também o fizeram/fazem/farão. Nada mais justo do que boa parte da esculhambação toda se passar num museu moderno com figuras greco-romanas clássicas, representantes de uma civilidade conseguida mediante muito sangue jorrado que vai ser desordenada quando um subalterno, pressionado até o limite, desafia o sistema. Planos em contra plongée deixam isto claro, a imponência da arte elitista sendo pintada de vermelho e tripas. Uma amostra do barbarismo existente no qual não significa o caos, mas sim um contraponto à civilidade farsesca que nutre mentes e crê num recesso dos instintos, porém somente diante dos atores e demagogias certas. O civilizado dita uma ordem de existência de regras que fundam sua estrutura e quando as mesmas são quebradas as consequências devem ser escrotas. Santino D’Antonio (Riccardo Scamarcio) representa o elitismo citado na utilização escusa destas regras. A busca pelo poder com o usufruto armas barbarizadas com o intuito de um marco civilizatório farsesco sobre o sangue alheio, assim como a tão citada missão impossível que Wick teria disponibilizado a fazer ante seu pedido de aposentadoria. Neste ponto Winston (Ian McShane) age como artífice de uma devida e buscada imparcialidade na manutenção destas regras, porém, sabendo mexer determinados peões no que tange a manter Wick encaminhado na putaria, assim como fora no primeiro filme. Nada é preto no branco, o direcionamento fílmico é objetivo mas não imbecil. As regras citadas de maneira exagerada pelo animal que escreve isso, aqui existem rígidas, mas, nada mais interessante do que um desequilíbrio no domínio das mesmas. Principalmente quando se reverte a porra toda em cima de um mandatário filho da puta exemplificado em Santino. Um longa como uma resistência enveredando-se num nicho de filmes primordiais e primais onde “não se desperdiçam palavras” como é dito por Santino sobre John Wick. Sem enrolação ensebada e desnecessária. Um cinema honesto. 

Falando nisso já chega de desperdiçar palavras de merda. Assistam a porra do filme. 

Star Wars episódio VII - O Despertar da Força (2015)



Star Wars episódio VII - o despertar da força. Mais parece que a força não despertou e está com preguiça de acordar. Uma puta ressaca.

Por Ted Rafael Araujo Nogueira

Direção: J.J. Abrams

Sinopse: Cópia do episódio IV.

Saudosista, cheio de referências e respeitos para com a trilogia original, tão religiosamente respeitada pelos fãs xiitas ou não. Personagens icônicos reapresentados para o apelo nostálgico somente (Léia que o diga) em tela, excelente apuro visual. E o que mais, além disso? Nada de novo no front.

Star Wars VII só corrobora que Abrams é mais um na multidão com trejeitos de fã e algumas qualidades técnicas para a ação aqui e ali, porém não consegue sair da homenagem/autoplágio da saga para algo mais novo (ou pelo menos convincente) e palpável, com roteiro que vá além do ordinário, como este último não o faz, diga-se de passagem. A preocupação do cara em cultuar a série o fez esquecer-se de transpor uma narrativa mais coesa e minimamente original e interessante. Competente ao menos. Não ficou nem no quesito de reciclagem, virou uma cópia descarada do primeiro filme de 77. Senti falta do George Lucas mais corajoso e inteligente da trilogia dos anos 2000, que tem suas falhas sim, mas é infinitamente superior em termos de direção (apesar dos excessos), narrativa e roteiro, pra ficar somente nisso.

Um filme com ação competente dentro do universo. Nada mais.

Porra mesma conversa de estrela da morte de novo, terceira vez e com aquele ponto fraco clássico pelo meio da estrutura e tal... Próximo filme nova arma. Constelação da morte ou universo imortal? E a porra do nome dessa última? Starkiller... Homenagem ao suposto segundo nome de Luke, antes de Skywalker, mas serve como alcunha imbecilóide e infame. E que resistência fuleragem. Ganha a guerra do imperador e do Vader, mas não conseguem descobrir mais nada sobre a nova estrela da morte. Porra Léia. Aliás, Diabo... Resistência infinita... Déjà vu fuleragem. Além de não ter competência pra trazer a democracia à baila nem prestou atenção no rejuvenescer da ala imperial radical alcunhada de Nova Ordem. Esta por si só é uma aberração unilateral nazifascista mal explorada. A ideologia de compor um treinamento escroto e radical em um stormtrooper desde idade tenra é interessante que abre para um mar de perspectivas de aprofundamento destes personagens, pena que tudo ficou basicamente no plano teórico (usufruto seboso para o piadista Finn). Esta questão foi muito melhor aprofundada em o “O Soldado do Futuro” (1998 de Paul Anderson). A composição do discurso da Nova Ordem a La Hitler é de fazer rir de tão genérico e estúpido. George Lucas não é um cara de grandes sutilezas, mas sabia como montar estratégias na composição de seu universo na concatenação maniqueísta de heróis e vilões com seus subterfúgios que funcionavam bem. 

Matizados. A personagem Rey, por exemplo, do nada já sai metendo a chibata em todo mundo sem ter a porra de treinamento algum, mas a força dialogou com ela. Aí dentro. Nunca o subterfúgio do uso da força foi tão óbvio, superficial, avulso e idiota como nesta personagem, que chora de 5 em 5 minutos buscando a empatia do público de forma forçada. E olhe que a atriz é até boa. Finn. Que cacete de personagem tapa buraco besta é esse? Um alívio cômico medíocre que não funciona de forma alguma e serve como mulambo pra ser jogado de um lado a outro na narrativa sem consistência alguma. E tinha um puta potencial como o stormtrooper refugiado, porém é um zelador que sabe como destruir toda uma estação espacial. Ok. Uma pena, diante de toda a conjuntura gerada por um personagem negro (que gerou debates e comentários racistas imbecis) ter grande destaque numa saga tão absurda e ser o bobo da corte. Até a morte de Han Solo (Ford como o Mestre de sempre dando um ar de humor mais anárquico diante do humor infantil que é dado ao longa), vendida como ato de coragem de seu diretor, vira mera cópia da morte de Obi Wan, não antes que Rey veja isso tal qual Luke vira a morte de Obi Wan, se manque J.J. Além de ter perdido uma grande oportunidade em ter um conflito ideológico/familiar entre pai e filho com alguma envergadura de consistência narrativa. Kylo Ren. Menino mimado, com treinamento até avançado que leva uma surra de uma iniciante, que nunca tinha pegado em um sabre de luz. Definição bem óbvia. O Anakin de George Lucas nos episódios dois e três foi infinitamente melhor desenvolvido (dois atores ruins quase que em pé de igualdade). Tem um exagero desses mimos em Kylo Ren, mas ainda há um potencial pra ser trabalhado. E olhe que achei até legal e curioso ele não ser deformado como o Vader, mas o Abrams nem nisso não se livra do repeteco e dá a ele uma cicatriz na cara ao fim do filme, para ter um arco dramático mais próximo ao de Vader. Putz... O fato de ele ser inexperiente, em transformação causa interesse, pena que não cresça tanto além do jogral teórico. A perspectiva é que a saga cresça nos contornos deste personagem, se formos muito otimistas, e no tratamento que será dado em Luke Skywalker. Provavelmente a acomodação poderá tomar conta de tudo. Supremo Líder Snoke, este parece uma cópia simples de Darth Sidious, mas pode ter um truque guardado na manga diante de toda sua aura de mistério. Pode vir a ser o Darth Plagueis, que treinara Sidious e supostamente teria sido morto por este último, porém que com sua manipulação da força pode ter sobrevivido. Porém esta é uma conjectura muito otimista também. Pelo que fora feito neste filme nada dos episódios I, II e III seria levado em consideração. Fiquemos na torcida. 

A parte técnica merece respeito, neste quesito o simbolismo na tentativa de um resgate visual da trilogia original funciona bem. A fotografia suja, a direção de arte detalhada relembrando ambientes anteriores, como na reconstituição da Milleniun Falcon traz aqui uma boa homenagem. Os efeitos visuais e sonoros primorosos, que impressionam pelo realismo. Destaque para o plano-sequência de combate em perspectiva à figura de Finn por nave pilotada pelo personagem Poe Dameron. Porém tudo aqui na obrigação por competência. Trilha sonora sem grande destaque, somente a reutilização de temas conhecidos do mestre John Williams, que fora isso não criara algum tema novo que se destaque. 

No saldo geral perde-se em suas homenagens e traz um material repetitivo por demais que não chega a ser competente como obra completa e sim, somente, com destaque na parte técnica e no bom usufruto de algumas simbologias nostálgicas nas figuras de Han Solo, Chewbacca. Pouco para o que prometia. Os fãs xiitas esperneiam, mas a ideologia política tão bem explicitada nos episódios I, II e III fez falta, assim como este usufruto não tão forçoso nos episódios IV, V e VI. A inovação técnica, a coragem inicial de Lucas, apesar de querer grandes arroubos era demais. Aqui há somente um estudo esperto de produto vendável sem propor passos mais sagazes para a sétima arte. Um produto que visa a emoção fácil e a diversão barata. Já funcionou pelo lucro que obteve. 

Star Wars serve como prova da falta de criatividade do maisntream americano. A filosofia preconizada por George Lucas e que rendera um monstro artístico de proporções e tentáculos absurdos foi diluída a um produto capitalista por demais simplificado em sua constituição artística. Logicamente que os outros tinham esta prerrogativa, mas Star Wars diferenciava-se sempre pelo apelo de seus personagens formidáveis, por mais que a questão maniqueísta estivesse na cara, de forma competente. Isto sem comentar, novamente, na coragem de denotação ideológica política de alguns filmes. Tudo isso foi jogado fora somente para uma adesão masturbatória os arquétipos estabelecidos pela saga. Pouco. Agora sabemos que em termos de sci-fi não podemos cobrar demais de Abrams. Neste filme o cara se mostrara como mais um nerd com alguma qualidade que tinha um puta material que criou um caça níquel competente. Já nasceu fazendo dinheiro e diverte aqui e ali, mas é meramente esquecível, infelizmente. Diversão passageira, cheia de furos por sinal. Como obra cinematográfica, mesmo no quesito diversão pura e simples ainda fica atrás dos outros. 

O mais fraco da saga.