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1964: O Brasil Entre Armas e Livros (2019)

Documentário revisionista que busca impor uma narrativa histórica própria que deslegitime a vasta bibliografia sobre o tema, consid...

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Mestres Loucos



Documentário etnográfico pancada onde Jean Rouch expõe o entrechoque sociocultural e político escroto do imperialismo inglês com o continente africano na figuração de um ritual como simbolismo à violência capitalista estrangeira.

Dirigido por Jean Rouch 
Nota 10

Por Ted Rafael Araujo Nogueira

Jean Rouch. Grande diretor inovador de documentários etnográficos via antropologia, que buscava uma nova visão e distinção do outro a ser filmado. Aqui em uma de suas melhores e mais chocantes obras.

O trato acerca das relações dialéticas entre dominadores e dominados através do viés cinematográfico. Mestres Loucos. Rouch compôs-se como um dos criadores do cinema etnográfico buscando uma perspectiva sociocultural que fosse voltada para entrechoque cultural do cinema para com as classes populares. Estas filmadas por ele em uma disposição entre o homem e seu meio social, diante de suas elucubrações imagéticas acerca da vivência dos povos africanos sob o jugo imperialista. Neste caso o Imperialismo Inglês na Costa do Ouro (renomeada como República do Gana em sua independência em 1957). 

Um ritual. Seita dos Haoukas. Onde são expostos, inicialmente, os conflitos entre os jovens quando aportam na cidade de Acra (principal cidade da Costa do Ouro) e diante do reflexo violento que o imperialismo causara nessa civilização, os cidadãos são expostos por Rouch em seus afazeres do dia-a-dia. Acra pode ser considerada como um microcosmo da exploração existente na Costa do Ouro no período dos anos 50 onde a representação das criaturas humanas são compostas por trabalhadores explorados nas mais diversas funções dos labores da cidade.

Somos conduzidos para fora da cidade onde será expresso o ritual proposto. Rouch já expõe seu modus operandi analítico aqui explicitando aspectos de intenção do ritual nos mostrando algumas influências visuais imperiais inglesas, como a figura, em forma de um boneco, do “Governador”, figura representativa do controle de Acra. 

O castigo aos pecadores é proposto para que se tenha uma purificação ritualística, que logo após começar-se-iam os transes corporais de vários componentes dos Haoukas em figuras análogas do imperialismo britânico (figuras primordialmente do fim do século XIX). Aqui já somos contemplados pelo aspecto extremamente hierárquico militar do imperialismo onde peças como “Governador”, “General”, “Tenente” são algumas das quais reagem e regem o ritual de forma a respeitar plenamente a hierarquia de suas posições. Uma encenação da ordem colonialista é explicitada aqui. Uma espécie de absorção cultural é vista como um confronto dialético diante da questão das vivências dos Haoukas em Acra. 

Fica clara a crítica de Rouch quando ele expõe um trecho de um desfile britânico comparando-o com o ritual Haouka e como os mesmos se assimilam em seus devaneios por controle de estado e situação. 

A dominação cultural/política/econômica/social é posta em claras vias aqui exatamente neste transe onde se enxerga o adentrar de uma determinada cultura pela força em outra. Ao invadir e buscar controlá-la, a afetará nos mais diversificados aspectos. Mesmo em rituais tribais mas específicos, onde visar-se-iam transpor tradições concatenadas, em nível subconsciente dos afetados, por partícipes oriundos da exploração inglesa. Podendo afetar, assim, a força de uma questão identitária. 

Rouch e sua câmera na mão. O ideário que o Cinema Novo brasileiro tanto defendia, e este cara já manjava dessas putarias (que realmente serviram de referência à vertente nacional). O autor usa sua câmera incessante e poderosa (curioso saber que Rouch creditava ser mais fácil filmar em cores por se achar um péssimo fotógrafo para o preto e branco e por buscar mais praticidade) para ironizar as questões dos anseios à trivialidades do aporte dominante inglês onde identifica alguns motes dentro do ritual. Como uma reunião a respeito da limpeza de um palácio, onde há discussões sobre como está o palácio e quem será punido por ele estar com algum problema. Aqui numa clara alusão às questões dos devaneios nas intrigas administrativas palacianas de cunho imperial. 

O radicalismo de Rouch ao filmar o sacrifício do cão é salutar. A uma certa altura o ritual pede um sacrifício com vias a se fortalecer os Haoukas na conjuntura do deleite de se comer um cão, que por ser proibitivo e, assim, sendo tabu representaria a tais comedores maior força para os Haoukas. Esta representação dialoga com a constituição análoga do controle imperialista no que tange ao imperativo no relacionar hierárquico novamente. Acerca do sacrifício animal, partes corporais do mesmo são escolhidas para alguns membros de maior poder enquanto um dos participantes questiona que o animal deve ser repartido com quem não presenciou o momento. Sempre visando a questão do usufruto das questões de cúpula de controle. 

A questão hierárquica como crítica de Rouch aqui como o cerne principal, realmente da obra sempre identificado no transcrever cultural no aprofundamento das relações.

Ao fim do ritual é demonstrada sua veemência crítica no direcionamento comparativo das figuras sociais com seus respectivos personagens de transe. Onde o personagem “General” é representado no ritual por um policial de Acra, aqui numa alusão, as já referendadas aqui, situações análogas do ritual com as formas de dominação estrangeira. Uma questão de influências e trocas dentro e fora do transe de maneira subconsciente. 

Assim é proposto que não existam ainda “remédios” que componham uma forma de pôr estas pessoas em sociedade sem explorá-las. Onde viesse a existir uma justa associação em sociedade. Coisa que até hoje os ranços dos conservadorismos reacionários atrelados ao crescimento do capitalismo desenfreado não deixam enxergar, ou minimamente nem visam buscar entender as necessidades e os anseios do outro. Botou pra foder Jean Rouch.

Boyhood (2014)



Propaganda pura. Somente. Um grande embuste moldado por uma pintura bacaninha. Simulacro de isenção das banalidades da vida como desculpa numa composição extremamente estereotipada. Grandiosidade do trivial? Cinema rotular, raso e superficial isso sim.

Dirigido por Richard Linklater
Nota 4

Por Ted Rafael Araujo Nogueira

Pela terceira vez contemplo o cinema de Linklater. A trilogia romântica dele desconheço, assisti e me diverti bastante com “Escola de Rock” (2003) e achei “Homem Duplo” (2006) interessante e intrigante, que agora estão parecendo mais pontos fora da curva diante do que se vê (isto a meu ver, pelo pouco que conheço do diretor, mas, principalmente pelo que é comentado de alguns de seus filmes envolvendo a passagem dos acontecimentos) diante dos experimentalismos com temporalidades propostos pelo diretor. Então chegamos a Boyhood. Filme que visa descortinar toda uma gama de situações vividas por uma família de classe média americana. Suas desilusões, seus acertos e erros, isto tudo partindo do viés e da visão de um garoto, onde tudo percorre pelos já tão falados 12 anos de processo filmado, que Linklater ambiciona transportar esta convivência familiar através de uma passagem pelos anos, considerados difíceis por alguns: da infância à juventude, como é dito no título. Os mais problemáticos (será?), onde o aprendizado de tudo a sua volta vai se transformando e moldando sua personalidade de forma atroz ou não.

O resultado de todo este processo ambicioso? Uma puta besteirada. Um embuste sem tamanho. Linklater usa dos mais variados artifícios vagos pra amenizar tudo o que propõe, desde a trilha sonora espertinha (muito boa em determinadas partes até) aos dramas forçados e chorosos da mãe, por exemplo. Ah mas alguns dirão que "a vida é um clichê", isto seria nada mais nada menos que uma desculpa esfarrapada como um simulacro de isenção para um roteiro extremamente rasteiro que resvala no óbvio sempre e usa isso como desculpa de que a vida é cheia de banalidades. Neste filme, diante da família que vemos, eu concordo que a vida é cheia de frivolidades e muitas, mas muitas frescuras mesmo.

Não estou nem entrando na seara de que minha experiência no mesmo período fora diferente. Faz parte isso na minha crítica? Sim. É difícil um distanciamento quando se faz uma crítica sobre um filme, qualquer um que se diga de passagem, ainda mais um que aborda majoritariamente o crescimento de um jovem, período que ainda me é próximo. Como a maioria que comentara sobre o filme neste e em outros sites, o filme nos faz compor algumas comparações sim, porém isso só me ajudou a vê-lo como uma bobagem superficial que aborda probleminhas da classe média americana chorosa e necessitada de atenção. Não é somente uma questão de diferenciação pessoal não, longe disso, o filme peca por problemas narrativos pesados pondo todo o tour de force na força da expressão do processo usado. Somente. A forçada de barra pra juntar tudo isso e angariar seu público chegar a ser descarada e risível. 

Classe média americana. Esta mostrada da forma mais genérica, imbecil e superficial possível. Porra se fosse uma crítica da parte de Linklater acerca das obviedades frívolas (conjuntura redundante proposital minha) nas quais a classe média dá tão idiota importância ás mais variadas coisas inúteis, tudo poderia ser mais interessante ao menos. Não escapa nem a repetição medíocre da comemoração do fim do ensino médio e a entrada na faculdade, isso sem que esqueçamos o choro da mamãe porque seus filhinhos vão pra faculdade. Porra tinha uma coisinha mais original não? Mas não. Aqui vejo uma ode a futilidade, as ditas dificuldades absurdas pelas quais a classe média no auge da pseudo-credibilidade auto-importante perpassa e transporta. Haja paciência (paciência mesmo já que são quase 3 horas desse besteirol choroso). Se a ideia de Linklater foi deixar o espectador entediado com uma vida melancólica e banal e sem emoção alguma, aí ele teria conseguido um fã, pois minha constatação foi exatamente essa. Antes fosse isso. Linklater expõe todos estes problemas de forma dialética, como se tudo fosse trivial pelas repetições nas vidas de muitos, mas mantém o tom de auto-importância (novamente) de como tudo aquilo interfere no caráter do personagem principal songa monga. Olha aí um dos segredos espertos desse embuste.

Personagens. Ethan Hawke como o pai (ausente, mas descolado, pra variar na criatividade farsesca de Linklater) tem boa atuação sim, ainda mais mediante o processo utilizado por seu diretor e compõe bem seu personagem, o melhor do longa, isto por a personagem de sua filha ter sido anulada com o passar dos anos. Até o discurso machista dele ao fim achei até autêntico (um tanto repetitivo, pra variar, mas não tão canhestro como quase todo o resto), isto sem entrar no contexto se é correto ou não, honesto ao menos o fora, mesmo assim, nada de grandes absurdos qualitativos novamente. O tratamento unilateral dado às mulheres no filme. A irmã de melhor personagem no início do filme vira uma muda tapada assim como seu irmão, como se todo adolescente por obrigação metodológica fosse problemático, idiota e melancólico. A mãe. Patricia Arquete está bem no papel. Forte e densa em talvez um das melhores atuações de sua carreira. O problema é o machismo torpe em que a personagem é construída. O lugar-comum machista absurdo e burro de que mulher não vive sem macho, isso nem por pouco tempo. E ainda tem outro clichê em cima, o do marido e padrasto bêbado (aliás, isso é reprisado, são 2 os bebuns). Porra o filme abusa desses, e de tantos outros, dos mais variados chavões pra justificar as banalidades da vida. Uma puta enganação. Agora Ellar Coltrane recebera o papel mais difícil. Toda a trajetória em cima dele. Essa figura faz o que pode, mas é quase tão apagado quanto seu personagem imbecil. Um adolescente chorão e melancólico. Porra até a fase emo o cara teve. Linklater se aproveita destes rótulos pra aplacar o coração de sua plateia, angariando fãs que fizeram parte dessa fase, de forma genérica. Idiotice pura. Outro bordão. Isto sem falar no avô ensinando o garoto a atirar, o anseio do jovem de ter um carro também. Sim e alguma coisa nova? Uma novidade que seja além de querer usar as muletas do método e a já citada obviedade da vida somente.

O filme foca espertamente na sensibilidade de muitos que diante de tantas características comuns que fazem com que várias pessoas se identifiquem. Esta gama de truques narrativos, a meu ver, simboliza a mediocridade da obra. Uma preocupação em angariar fãs talvez (como já fora dito aqui)? Ou então uma forma de justificar as faltas de originalidades apelando para o senso comum dos acontecimentos da existência. Esta questão abordada em demasia e da forma que fora traz o público para o seu colo doce e choroso onde aninham-se muitos sensibilizados com a vida de um adolescente sem graça numa conjuntura óbvia servida à mesa como um jantar do sentir mediante o amor familiar. Falcatrua. Filosofia barata pra justificar falta de estofo criativo. 

A única novidade louvável (louvável pela tentativa em si e por parte do todo) de Linklater é o processo e não o resultado. De fato tudo é até organizado e os anos passam de forma orgânica sem tanto se sentir no espectador, correto somente, nada de grandes arroubos narrativos como tanto se comenta. Uma boa montagem de tudo que deve ser comentada somente pelo ineditismo destes 12 anos a que os fãs e críticos morrem se referindo, mas nada que um diretor com um pouco mais de criatividade pudesse ousar mais e deixar tudo um pouco menos óbvio e idiota. O problema foi que aqui tudo se perdera nesse processo numa infinidade de alcunhas idiotas em uma trama superficial e de personagens extremamente repetitivos.

A sensação real que fica é de um projeto ambicioso que merece ser visto por pura curiosidade mórbida pela concatenação do processo apenas. As altas expectativas de um filme que faria algo de diferente pararam no seu processo, correto apenas. Uma colcha de retalhos bem costurada pelas mais variadas idiotices, propagandeada como filme simbólico de uma geração e uma ode ao sentir mediante a arte. Pura balela. Um filme medíocre no todo. Melancólico, chato, óbvio demais, entupido de voltas num amontoado de estereótipos poucas vezes visto nestes últimos anos. A banalidade na vida como personificação humana foi transposta simplesmente como a repetição do impalpável, óbvio e superficial que somente um cinema tão farsesco pode apresentar.

Sniper Americano (2014)



Estudo sagaz, crítico e inteligente de Eastwood acerca dos percalços decisivos diante de situações extremas diante de todo um molde moral embasado pelo conservadorismo social e político americano. A sutileza das tragédias de Clint continua impressionando.

Filme dirigido por Clint Eastwood. 
Nota 9

Por Ted Rafael Araujo Nogueira

Clint Eastwood decide enveredar-se em um dos âmbitos de maior defesa do conservadorismo americano: o belicismo secular americano. Isto se focando na história de Chris Kyle, um dos maiores franco-atiradores de todos os tempos em uma espécie de semi-biografia, mais focada em seus anos de combate no Iraque. 

Eastwood como conhecido conservador americano que é, busca criar toda uma atmosfera que vise montar um mosaico das articulações que viriam a motivar Chris ao combate por seu país. E o faz de forma genérica, desde a criação texana nas bases dos westerns ou na educação conservadora americana baseada em ideais patrióticos claros, pungentes e maniqueístas pós-derrocada vietnamita da era Nixon. Além do fato do crescimento de Kyle formar-se mediante este universo, se entrelaça ao seu modus operandi nacionalista a vontade de lutar contra o "mal do oriente". Diante de todo este mosaico genérico já visto em várias outras obras entra a sutileza da derrocada do ser humano na visão de Clint. Diante de todos os esforços e serviços prestados Kyle sempre é realçado como um batalhador nacionalista com as nuances conservadoras em suas costas e que não mede sacrifícios para defender seu país mesmo que isto custe sua vida. O que não esperava é que custaria parte de sua sanidade e que mesmo diante de tanto defender o estado passara por anos sendo uma lenda perdida em meio ao caos dos tiroteios. Sempre como um anestesiado diante do muito que o cerca. 

Clint, com o uso do ótimo roteiro de Jason Hall, visa mostrar esta figura como exemplo de onde o conservadorismo (seja ele qual for) pode compor uma existência e onde seus excessos podem ser destrutivos e/ou profícuos, não paradoxalmente. Lembra a composição final de situação de William Munny no seu “Os Imperdoáveis” (1992) (salve as proporções bem menos enaltecedoras deste último). Kyle é um cara engajado, criado em família católica praticante, temente a Deus e defensor voraz do instinto de proteção familiar. São esses elementos já tão vistos que Eastwood mostra seu talento em narcotizar tudo na figura de seu atirador. Sim, todos os elementos clássicos do conservadorismo estão lá, como que de propósito, esperando pra serem usados ao invés de somente comporem um contexto de personagem. Compõem sim, mas vai tudo, além disso. São as leves nuances dadas a Kyle que transformam tudo em um estudo crítico dos excessos e de que forma uma vida assim pode ser visualizada e por alguns enaltecida. Nas mãos de outro diretor tudo poderia ser uma ode domesticada ao período Era Bush como forma a defender a guerra do Iraque e à morte dos facínoras que os fossem contra aos intentos de defensores desta era. Filmes imbecis como “Invasão à Casa Branca” (Antoine Fuqua – 2013) se fazem assim, onde os novos terroristas irracionais e loucos seriam os norte-coreanos neste último. Mas em Sniper Americano é imposto o ritmo necessário pra que se entenda Kyle e que não se busque defendê-lo somente, mas sim contemplar as possibilidades do quão pode se perder quando se assumem determinados riscos. Nunca em uma doutrinação pró Bush burra, mas um entendimento de como uma figura clássica americana em seu ensejo inicial viria a deixar perder-se nos, tão defendidos, por muitos, conflitos bélicos. 

Que fique claro, Clint defende seu personagem sim. Defende alguns elementos desse belicismo americano por vezes creditado como necessário, mas não deixa de expor as várias de suas chagas iminentes. O mais interessante é exatamente ver um cara como Clint projetar-se a compor tal obra. Um filme tão distante e perdido na figura de Kyle que visa uma proximidade com seu espectador exatamente em suas matanças. Estudos de personagens em combate já haviam sido concatenados antes recentemente como em “Soldado Anônimo” (Sam Mendes – 2005) por exemplo, em diferença de status e estigmas a este último há o herói lendário que Kyle vem a representar pra muitos companheiros, como um ser humano perdido e desolado, sempre triste. Como se várias camadas das tonalidades do seu caráter fossem mantidas amortizadas, anestesiadas. Funcionais quando lhe apetecessem. Seriam estes percalços de guerra propriamente dita que o teriam deixado assim? Ou a massiva propaganda de sempre (sutilmente delineada aqui) propalada pelo Tio Sam o teriam deixado tão distante?

Chris Kyle afirma não se arrepender de ter matado (oficialmente) 160 pessoas em suas viagem ao oriente em determinada passagem, e diz querer ter protegido mais seus companheiros em uma já clara alusão a todos os meandros da criação conservadora já citados aqui. Mas seu semblante mostra, não o arrependimento, mas mostra o envelhecer do peso dos anos de uma responsabilidade absurda de se tirar uma vida e de como isto pode afetar o enrijecer de toda uma existência. Algo que Clint sempre gosta de manifestar e alertar, como já fora visto em “Os Imperdoáveis”, “Sobre Meninos e Lobos” (2003) e “Menina de Ouro” (2004). O grande lance deste filme é a sutileza das contradições apontadas por Clint, o assumir de responsabilidades e o que elas te acarretam. Não visa discutir a questão ética da guerra em si pelas questões óbvias, mas sim na concatenação de seu personagem principal sempre meio perdido como ser humano em meio a tanto heroísmo que lhes é dado. 

Bradley Cooper tinha uma missão de grande dificuldade neste papel diante da embalagem preparada por seu diretor, mas assumiu o processo inteiro de forma veemente e cirúrgica em todas as texturas dadas a Kyle deixando-o como uma figura multifacetada de expressões sutis sempre em busca do próximo alvo, ou simplesmente em busca do ter o que fazer pra responder sua estadia na guerra defendendo a pátria, a família, os companheiros. Buscando uma justificativa para este mosaico de vida de forma a responder por sua incapacidade de se relacionar de outra forma. Interessante a alegria inicial do pungente cidadão americano de fala dura e segura para se engendrar nas dúvidas de seu silenciar futuro. O resto do elenco compõe bons e razoáveis personagens (alguns bastante matizados) de forma a completar o ambiente para a existência membranosa de Kyle. 

Eastwood peca somente em alguns percalços exagerados em alguns dramas como na figura da esposa de Kyle que escuta alguns tiroteios enquanto falava com Kyle em momentos dramáticos e desnecessários por demais. Pro bem tudo muito rápido e de forma alguma impede a pungência da obra. Aqui os iraquianos são mostrados simplesmente como o outro em combate. A visão de Clint é ríspida, mas não rasteira, oportunista e preconceituosa, como em “Argo” (Ben Affleck – 2012) com os iranianos. Aqui é a simples visão do outro ao longe, assim como a visão inicial dos japoneses aos americanos em “Cartas de Iwo Jima” (2006) do próprio diretor. Clint não toma tanto partido na crítica aos iraquianos que lutavam, a não ser em uma cena de um líder islâmico com uma furadeira à mão contra uma criança. Esta cena específica mais visa mostrar o quão Kyle se sente um inútil em determinadas situações e como busca algo que sempre o faça voltar. As dúvidas e as certezas do que se deve defender e de quais são os seus limites mediante uma luta moralista.

Que não passe despercebido, logicamente, a parte técnica. Porra Clint ainda chuta muitas bundas quando quer. A sugestão das imagens nas conjunturas solitárias de Kyle é soberba, onde todos os tons de cinza e o amarelado das areias diárias da desgraça na fotografia (excelente apoio de Tom Stern) funcionam como o infindável conflito interno de Kyle vindo a mostrar toda a experiência e talento inquestionável de Eastwood na defesa da construção de tragédias gregas de seus personagens. Um mestre. A montagem eficiente e o som estupendo completam o espetáculo visual que culmina na excelente montagem da cena final no Iraque com direito a criação de uma atmosfera insuportável de tensão na despedida bélica stricto sensu de Kyle no Iraque.

Se procurares uma crítica ao modelo antibelicista de parte da esquerda americana, não achará um grande aporte aqui. Se buscar uma defesa a alguns elementos dos elementos aos moldes do conservadorismo clássico americano você a encontrará cercada de suas falhas e conotações intrínsecas aos sofrimentos dos caminhos seguidos das figuras que vivem sob a égide desta escola. Aqui há um estudo de uma figura acima de tudo, defendendo e culpabilizando seus problemas com o enaltecimento da força das escolhas de proteção/mortandade de gregos e troianos. 


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014)


Uma batalha intensa, absurda e idiota. Thorin é um imbecil mal construído. Ele morre e todos choram. Fim. Assim termina este grande arremedo de cinema. Barulho sem um conceito mínimo que suportasse metade do que se vê. Besteirada

Filme dirigido por Peter Jackson.    NOTA: 4,5

Terceiro e decisivo/esperado episódio desta, que é a trilogia que visa encaixar-se à Senhor dos Anéis.

Agora os anões sob o controle de sua montanha, após Smaug escafeder-se de lá, tem de se preparar para uma batalha que envolve humanos, elfos e orcs pela sua montanha por algumas motivações em sua maioria escusas.

Isso já resume bem o roteiro deste arremedo de filme. Este aqui prova que Jackson realmente só queria fazer 2 filmes. Mais parece uma colcha de retalhos de estrutura amplamente falha. Lutas encaixadas umas nas outras na marra, ganância mal formatada de Thorin e um bom embate que mostre o crescimento de Sauron. E é só.

Muito mais no mesmo em alguns embate e frases feitas à semelhança de SDA mas sem chegar nem perto do mesmo impacto. Em SDA onde a batalha impressionava pela grandiosidade e pela qualidade em como tudo era encaixado esta aqui é uma repetição dos bons momentos de SDA sem vínculos que realmente a justifiquem por si mesma. Até é tentado algo neste aspecto. Mas o simplismo reina. O elfos querem algumas riquezas e os humanos também, estes últimos pelo menos querem se reestabelecer diante dos anões que soltaram o Dragão que destruíra a cidade do lago próxima a montanha. Os orcs, aqui sim uma boa sacada mesmo que explanada rapidamente, querem a montanha para além das riquezas uma posição estratégica para os domínios ao leste, isto já como parte dos planos futuros de Sauron em SDA.

Antes de adentrar mais nestas searas é interessante dar uma pincelada final do idiota poderoso Smaug. Agora saído da montanha passa a destruir a cidade próxima com toda sua fúria e poder até ter o discurso final com Bard e ser morto por ele. Mesmo que rapidamente aqui Smaug funciona mais do que com sua filosofia de bodega, porém tudo ocorre muito rapidamente e nem nos dá o tempo certo de se apreciar o que poderia ter sido um ótimo personagem. Vai ficar no campo eterno das conjecturas. Mas ainda nos deu tempo do discurso final arrogante e tapado que dera tempo de Bard improvisar um arco e matá-lo. Aqui Jackson foi coeso. Um personagem imbecil morto por sua imbecilidade. Merecia bem mais que isso desde o segundo filme.

Eu cito bastante Senhor Dos Anéis, principalmente neste terceiro, porque são exatamente os pontos relacionados a primeira trilogia as qualidades deste último filme, pelo menos a massiva maioria destas referências. Como exemplo lembrei de toda a sequência envolvendo Sauron e Gandalf aqui, que recebe a ajuda de Galadriel, Saruman e Elrond em uma luta interessantemente bem beita contra o exército dos 9 mortos de Sauron. Tudo isso com direito a uma ótima deixa de Sarumam em relação a todo o embate e as circunstâncias do perigo de tal situação e o que suas decisões influenciariam no futuro da Terra Média. Pode até parecer em algum momento gratuito ou somente para fazer os fãs babarem, mas comigo funcionou ao encaixar com a outra trilogia, uma espécie de fuga diante de tanta besteira neste último.

Um bom ponto para Jackson foi o crescimento de Legolas neste filme, que além de sua ação sempre exacerbada e usada de maneira competente o personagem agora revela algumas camadas menos ríspidas que viriam a servir para o aprofundamento de seu personagem e no que ele seria adiante nos filmes cronologicamente posteriores. Positivo este ponto na utilização dele por seguir Tauriel que estava atrás de seu romance brega proibido. Serviu pelo menos pra isso o romance (que termina dramaticamente com a morte do anão e o choro de Tauriel, beleza Titanic).

Agora a batalha em si como o usual é bem feita, tem seus momentos de tensão (alguns) e repetição (elfos ajudando em cima da hora, vide SDA 2 Torres) de sempre. Aqui a confusão de tudo é mais tranquila de controlar pela diminuição do espaço geográfico. Mas nunca empolga pra valer, quando não é mais do mesmo simplesmente não empolga por si só. Jackson ainda tenta focar em combates mais intimistas, o que é bem positivo diante de toda a falta de ineditismo e empolgação que se prometera. As lutas entre Legolas vs Bolg e de Thorin vs Azog ganham espaço neste sentido. Mas grosso modo a batalha em geral soa cansativa por existir por si só sem que hajam motivações mais interessantes para havê-la. Sim. O problema de um filme de 2 horas e 25 é falta de tempo para os personagens.

Bilbo pelo menos está bem constituído sem grandes esforços e o resto no pleno automático. Bard pelo menos se mostra com o grande personagem deste filme juntamente com Legolas (engraçado que este nem aparecia no livro O Hobbit) que além do primeiro matar o dragão assume a liderança dos humanos de forma mais próxima possível a uma saída da unidimensionalidade geral. Outras figuras imbecis pairam como o assistente do Rei da cidade do lago que tem como mote o alívio cômico, porém além de não ter graça é totalmente inúltil e uma imitação exagerada e fajuta de Gríma Língua de Cobra de SDA. Um autoplágio imbecil de Jackson.

Thorin. Aqui o destaque é jogado em suas costas e aqui é onde o filme falha miseravelmente com uma apressada constituição doentia da ganância de uma figura. Como se a entrada na montanha o transformasse num tapado doente sem escrúpulos e vingativo e tudo bem depressa. Um malfadada tentativa de repetir a metáfora da ganância humana que é tão usada nos 6 filmes, e neste é onde exatamente monta-se seu maior fracasso nessa questão. Difícil cair na desculpa esfarrapada de "doença do dragão" para justificar uma derrocada narrativa. Que diante de uma alucinação o velho Thorin auto importante volta da ganância abusiva pra consertar tudo. Clichê, burro, fácil e idiota. Vendo seu retrospecto só se justifica a jumentice. Enquanto que em SDA Boromir já era um cara ganancioso por construção de sua constituição moral e falhara em seu intento e Frodo levaria três filmes pra se transformar e ainda assim permanecer ficar bastante confuso ou então o vício homicida pelo anel por Gollum sempre bem concatenados, mas Thorin mais parece um idiota unidimensional que no último minuto alucina e tem uma luz para a sabedoria e liberdade dos grilhões da ganância. Uma presepada irônica talvez. Mas fiquei por acreditar em ser estupidamente construído mesmo. Analisando este aspecto como um todo é impressionante como Jackson não buscou um trato maior a este personagem e a tantos outros tamnbém, para no mínimo finalizar a coisa de modo tragável. Este arremedo de barulhos e imagens caberiam melhor como sendo pedaços dos 2 primeiros. E olhe lá que nem alguns destes pedaços se salvam.

Onde o aparato visual sempre ajudara a compor tudo o que fora planejado por Jackson sempre com um mínimo de composição narrativa por trás este terceiro peca miseravelmente por ser apressado em mostrar somente a batalha (onde seus melhores momentos são as batalhas intimistas e não os planos gerais e fechados desta grande batalha) sem ter pontos narrativos que minimamente a segurassem. Tendo como qualidade somente a lembrança e renitência de citações dos filmes posteriores/anteriores. Cumpriu a função de lembrar-nos de Senhor dos Anéis e propõe um encaixe de tudo, mas é só. Eu defendo alguns pontos dos outros 2 filmes desta nova trilogia por ainda terem um mínimo de história a contar, mesmo que fosse relegada a algumas falhas, mas aqui é claro demais a ganância pela grana dos estúdios (sem choro), tipo o Thorin, ganancioso idiota dono da montanha. Tá certo. Estão ricos e comandando a parada, mas que pelo menos tivesse alguma qualidade. Mas pra que? o Primeiro já pagou os 3, o segundo tinha algo a contar, o último foi só o sumo dos outros 2. Como filme é um arremedo do que poderia ter sido. Como indústria da fomentação de lucros Peter Jackson está limpando as lágrimas com cédulas de 100 com as críticas negativas (coisa que o Michael Bay já faz há tempos). Mas como filme é uma fuleragem.
Por Ted Rafael Araujo Nogueira, em 08/01/2015

O Hobbit: A Desolação de Smaug (2013)



"Repete alguns erros do primeiro, mas retira a infantilidade da narrativa e parte para um viés mais sombrio e mantém o apuro visual. Erra em surgir com um romance piegas entre raças diferentes e peca na desastrosa construção do poderoso idiota Smaug



Filme dirigido por Peter Jackson     NOTA: 6,0


Segunda investida (a quinta de 2001 pra cá, isso em datas de lançamento) cronológica na saga de Jackson em relação a obra de Tolkien. Continua a irregularidade do anterior suplantando erros do anterior mas, cometendo outros novos, dois deles bastante idiotas.


Continua a saga do anão Thorin e seus comparsas tampinhas valentes pela Terra Média em busca da revalidação de sua morada tomada pelo dragão ganancioso e escroto. Agora com a esperada cena de aparição de Smaug.

Sequência igualmente arrebatadora na parte visual (embora já comece a se repetir um pouco mais que o esperado em alguns planos) e falha em termos de narrativa. Longa demais na jornada na parte da ação e não no desenvolvimento dos conflitos dos personagens, ponto de erro já existente no filme anterior. Personagens inúteirs em termos de narrativa desfilam em tela. Porra Beorn é excelente visualmente, mas não acrescenta em quase nada na trama. "Ah mas no livro tava igual e foi bem adaptado", isso não vem ao caso. Minha análise aqui é do filme. Não li O Hobbit. SDA li e Tom Bombadil é inútil para colocá-lo no primeiro filme e Jackson acertou ao não usá-lo. Pelo menos a sequência de Beorn fora usada (e não fora longa mediante que mal há ação na mesma talvez, vício de Jackson nestes novos longas) para frear a perseguição dos orcs aos anôes e propor outra entrada narrativa, a dos elfos.

Novamente o combate exagerado dos anões contra aranhas gigantes mostra como Jackson se viciou no exagero após King Kong (ainda que eu ache este um ótimo filme dele). De interessante fica o crescente uso do Um anel por parte de Bilbo, onde já começar-se-ia a mostrar o quanto este artefato o modificaria futuramente. Então entram em cena de maneira visual magistral como sempre os elfos. Logicamente trocas de farpas anunciadas são postas em pauta, e características já claras a estas raças como a teimosia rancorosa dos anões e a condescendência dos elfos. Aqui um dos erros idiotas que citei acima começa a se construir: a relação amorosa platônica forçada entre uma elfa e um anão. Uma tentativa de unir as diferenças pelo amor, que valida tudo, em prol do respeito ao diferente. Porra se não fosse construído de forma tão piegas e previsível quem sabe. Aqui vejo uma tentativa de criar uma relação amistosa entre dois seres de raças diferentes assim como fora concatenado com sucesso em duas oportunidades em SDA com Aragorn e Arwen e a amizade de Legolas com Gimli. Esta última sim excelente e construída mediante o caráter histórico aspero de suas tribos uma com a outra onde a amizade suplantaria tudo isso. Agora este romance em a desolação de Smaug beira o ridículo. Brega (na pior acepção da palavra) é pouco para este pseudo-relacionamento. Tauriel (Evangeline Lilly ) e sua busca por seu queridinho Kili na caça dos orc aos anões após a fuga destes últimos pelo jugo dos elfos, serve somente para introduzir um ríspido Légolas na ação (outra esperteza de Jackson visto as possibilidades na ação de um personagem tão querido pelos fãs e tão já bem utilizado na primeira trilogia). 

Em termos visuais o filme mantém um alto nível de qualidade e agora partindo para um lado mais sombrio da história assim compondo elementos mais intensos e menos infantis que no primeiro longo, algo que soa positivo mediante a bagagem infantilóide em demasia do primeiro filme. Esta atmosfera mais séria vai crescendo mediante a proximidade dos anões à chegada na montanha e ao encontro com Smaug. Ab termos de construção de personagens Jackson mantém o tom em Bilbo fazendo-o mudar seu caráter mais tímido pouco a pouco, enquanto que Thorin ao adentrar na montanha rapidamente fica ganancioso (algo que ganharia contornos narrativos mais viciados no terceiro filme) ao contrário do líder grosseiro e audaz do primeiro filme que visa a honra dos anões. Aqui a tentativa do realizador foi repetir a performance qualitativa do crescimento do vício de Frodo com o anel em SDA. Mas aqui tudo ficara corrido por demais em seu final. No próximo filme esta seara seria levada mais a cabo. 

Gandalf separa-se dos anões para ir de encontro a um possível mal que ressurgiria. O crescimento de Sauron após a perda do anel é tratada aqui de forma bastante satisfatória onde há outro esperando encontro de Gandalf com o espírito de Sauron, ainda em reestabelecimento para o combate futuro numa citação clara e interessante e de bom encaixe com SDA. Tudo visualmente interessante e bem construído. 

As falhas narrativas do primeiro ainda incomodam, mas o aspecto mais sério que o crescimento da trama exige mostra-se bastante salutar, ainda com a entrada dos humanos na trama, principalmente na figura de Bard como líder rebelde contra as expropriações que seu povo sofre de seu líder bufão bem clichê. Aqui as relações e os elos entre humanos e anões são estabelecidos mediante a necessidade do desespero e bem construídos. Até haver o início do combate na cidade as bocas da montanha de Smaug entre anões e orcs e com a positiva intromissão dos elfos Legolas (sempre interessante no campo da ação) e Tauriel. Mas nada é alegria. Kili estaria ferido e quem além de sua médica salvadora elfíca poderia tirá-lo dessa? Continuação da pieguice e numa espécie de imitação do que Arwen teria feito quando salvara Frodo no primeiro SDA. 

A parte técnica continua estarrecedora com uma sublime direção de arte, fotografia e seus efeitos especiais primorosos como de costume. A direção aqui não compromete novamente (apesar dos repetidos planos gerais em movimento com personagens correndo pelas belíssimas paisagens da Nova Zelândia pareçam repetitivas em alguns momentos), nada que atrapalhe o prazer do acompanhamento visual da obra. Atenção a alguns planos-sequências de Jackson que beiram o espetacular como na exagerada, sim, fuga dos anõs dos orc dentro de barris em impressionante sequência de cair o queixo. Bem coreografada e cheia de excelentes efeitos e que põe por terra cenas de ação onde nada se entende como em filmes de outras séries como transformers. Aí vem o Smaug.

Smaug. Um personagem forte e visualmente arrebatador muito bem captado pela câmera de Jackson dando a entender todo seu poderio, pena que este dragão seja um idiota burro como uma porta. Risível por demais seu diálogo com Bilbo onde a analogia em relação à ganância humana via doença social personificada no dragão peca miseravelmente por seu simplismo imbecil. Um ser tão poderoso, e um dos mais perigosos da Terra média, se irrita facilmente com qualquer adjetivo proferido contra ele? A desculpa seria a ganância? A doença da pedra arken? A analogia acerca desta ganância? Isso me soou mais como uma desculpa de uma linha de filosofia de botequim que não se sustenta na narrativa e busca muletas para a própria existência. Um personagem de tal importância não deveria ser composto somente de burrice e frases feitas que não amedrontariam nem uma barata mais inteligente. O quanto é espetacular visualmente quase se equivale no contrário em sua pobreza matizada de seu discurso. Neste discurso Jackson tiraria a iditice do exagero do tom autoimportante do primeiro filme e jogaria nas costas de Smaug em toda sua verve do poderoso idiota.Tanto que diversos exércitos nunca conseguiram entrar lá, mas alguns anões com palavras odiosas ao Dragão iriam tirá-lo de lá? Fosse tudo baseado em uma estratégia mais inteligente tudo bem, mas desta forma beira o simplório. E ao fim? Que o Dragão de centenas de4 anos age como adolescente e parte para sua vingancinha e contra os humanos?! 

Não fosse o romance idiota entre Tauriel e Kili e o tratamento errôneo dado a Smaug (principalmente nesta última situação, que é situação chave ao filme) este seria o melhor da nova trilogia mediante alguns acertos gerais na construção do contexto e algumas cenas inspiradas e acertos de encaixe aqui e ali, aliás fosse Smaug um grande personagem, além do visual, este filme já estaria salvo. Do jeito que está mantém a irregularidade do primeiro. Uma pena. Fica como legado o apuro visual de sempre de Jackson mas com falhas (algumas grosseiras) na narrativas e na construção de alguns personagens.


Por Ted Rafael Araujo Nogueira

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2012)


Excelente reconstrução de um universo conhecido, mas peca pelo exagero do tom de auto importância de tudo, além da infantilidade do roteiro e da narrativa, onde não se prima pelo combate das personalidades e sim em demasiado no deslumbre da ação exagerada 

Filme Dirigido por Peter Jackson Nota 6,5

Este retorno à Terra Média por parte de Peter Jackson viera mediante muitas discussões acerca de quem capitanearia o projeto, enfim ficaria com um cara que entende bastante do riscado. A idéia seria construir um caminho utilizando-se desta obra para que se fizesse um link com Senhor dos Anéis, afinal há algum tempo as trilogias agoras são de 6 filmes não é?


A história parte de um pressuposto bem mais simples que SDA. Pretende-se expor a jornada de Bilbo Bolseiro como parte de uma comitiva de anões para que estes últimos reestabeleçam sua moradia cavernosa/montanhosa tomada pelo dragão Smaug muitos anos antes.

Bom, primordialmente, para muitos, inclusive eu inicialmente, 3 filmes seriam puro exagero para uma história relativamente simples que viesse a justificar estes longas, e cada um com mais de 2 horas e meia na média. Porém com o número de possibilidades que a literatura de Tolkien possibilita muito poder-se-ia extrair e que viesse a compor bem este recomeço. Neste primeiro filme os trâmites iniciais já se delongam mais que o suficiente, o que já mostra de cara a pretensão de Jackson: Agradar aos fãs com cenas absurdas, homenagear a obra de Tolkien e ganhar muita grana. Porra nada contra, tudo a favor até, mas o enchimento de linguiça prejudica a concatenação do todo.

Quase 40 minutos para a comitiva anã tirar o time da casa de Bilbo é um puta exagero. Aqui já mora uma tentativa de Jackson de repetir percalços e acertos de SDA (quase impossível não citá-la diante da proximidade de algumas searas) no primeiro filme. Aquém destes exageros está a parte técnica belíssima que nos brinda com um ótimo trabalho de fotografia mesmo com a já conhecida ambientação dos filmes anteriores Jackson conseguem grandes quadros que expõem com detalhes tudo o que se procura entender e quase sempre com estofo técnico invulgar. Sempre há de se citar as interessantes referências à SDA, sejam elas explícitas ou implícitas sempre funcionando relativamente bem para com o futuro encaixe da saga. 

Ponto positivo aqui fica a citação análoga à ganância humana metaforizada nos orcs, no dragão, nos anões e majoritariamente em Gollum. Posteriormente o crescimento deste desejo deverá ser propiciado à Thorin quando tomar de conta da montanha nos filme posteriores. Aqui quase tudo nesse aspecto numa boa medida.

Porém um dos grandes problemas deste filme é o excesso do tom de auto-importância da saga e de seus personagens. Isso fica claro e insosso com os mais variados planos contra-plongé em câmera lenta que nos cansam ao sempre enaltecer a figura de Thorin como salvador ninja dos anões. Em um determinado momento onde se conta como houve uma batalha pela montanha após a tomada do Dragão em um combate com o exército Orc comandado pelo orc albino Azog (excelente passagem em flashback por sinal, uma das mais fantáticas do filme), fora do flashback propriamente dito, o tom do exagero na auto-importância beira o ridículo. Como se a todo momento deva-se ficar prestando reverência e lembrando a todos de 5 em 5 minutos sua importância. Simplesmente enche o saco e não acrescenta quase nada ao que já sabemos. Torna-se um repetitivo mais adiante. 

No tocante ao exagero fica bem claro o quanto Jackson pretende encher os filmes de sequências de ação exageradas (muito bem feitas em sua maioria) cito o exemplo da sequência longa na montanha dos orcs, onde como importância narrativa está uma das cenas mais esperadas: o encontro de Bilbo com Gollum e o anel. Jackson é esperto, aproveita o ensejo de tal cena para compor um clímax na ação com os anões enquanto Bilbo joga com Gollum para conseguir escapar dele. Assim como já o fizeram em SDA As Duas Torres com o pau comento de um lado em batalhas épicas e o contraponto narrativo com Barbárvore na floresta. A diferença é que em o Hobbit muito do todo fica na percepção da inutilidade. O exagero atropela a narrativa por vezes. Até no terreno do humor, onde os anões tem quase por obrigação serem bufões e idiotas, mas na hora do pau viram monstros de combate. O humor funciona bem pouco.

O tratamentos dos personagens é interessante aos principais Bilbo e Thorin, onde os dois travam duelos de descofiança té o imenso clichê da "reconciliação" na base da frescura ao fim do longa, onde até o velho clichê narrativo do esculhambar antes pra abraçá-lo depois de tudo tem nesta cena. Martin Freeman como Bilbo representa bem a essência do que um hobbit teria mediante os trabalhos anteriores e já no primeiro filme já nos traz uma boa transformação de seu personagem, na medida sem pressa (bom ponto para Jackson aqui). Enquanto Richard Armitage como Thorin toma conta de cena em liderança e rispidez como já era de se esperar. Agora quanto ao resto tudo na base do automático onde os outros personagens simplesmente não tem camadas a crescer ( a não ser Ken Scott como o anão Balin que expôe o contraponto bda revolta anã de sempre com sua sabedoria e complacência). Radagast como um mago tresloucado para um contraponto com a calmaria de Gandalf não funciona quase em nenhum momento, não pela interpretação, mas sim pelo exagero na idiotia infantil dessa figura, apenas defendida esta afetação com uma frase dita por Gandalf algumas vezes de que Radagast é sábio à sua maneira numa espécia de defesa pálida ao respeitos às diferenças. Gandalf está quase no mesmo ponto onde começara SDA, então McKellen só mantém o que de bom já fizera antes. O interessante seria um melhor tratamento dos conflitos que dar-se-ão no segundo filme para que tudo não ficasse atabalhoado. Sim um filme de quase três horas que deveria se preocupar mais nos conflitos das figuras do que a exposição das mesmas à cenas de grande apuro técnico.

A parte técnica como já fora citado aqui, fora um grande ponto positivo onde nos lembramos da qualidade de SDA em diversas composições inspiradas de Jackson. Trilha sonora esperta evocando alguns temas já conhecidos por meio das citações já causa interesse nesta obra (mesmo com um pouco do enchimento de saco dos anões cantando ao início do filme). A direção de Jackson não compromete como um todo e, apesar dos vários exageros e infantilidades tanto da narrativa quanto do roteiro, ele sustenta bem o filme diante da responsabilidade de dar continuidade a um gigante do mainstream. Não faz frente à SDA, mas posta-se bem como um início que causa algum interesse esperto para uma saga já tão aclamada por crítica e público.


Por Ted Rafael Araujo Nogueira