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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Martin Scorsese, o cinéfilo

Martin Scorsese, diretor nova-iorquino, conhecido por muitos por ser diretor de grandes filmes como: Taxi Driver (1976), Touro Indomável (1980), Os Bons Companheiros (1990), Cassino (1995), Gangues de Nova York (2002), Os Infiltrados (2006) e tanto outros. Dono de uma filmografia riquíssima e extensa, Scorsese se notabilizou por muito tempo pelo fato de não ter ganho um Oscar de Melhor Diretor, fato só realizado em 2006. Porém, não quero aqui resaltar o diretor Martin Scorsese, mas sim, o cinéfilo Scorsese.

Scorsese além de diretor de filmes ficção, também se enveredou várias vezes pelo campo do filme documental, ou de não-ficção, como queiram. Dentre sua filmografia não-ficcional há verdadeiras perólas, como o premiadíssimo e aclamado No Direction Home (2005) e a excelente série Blues (2003). Bom, mas o que isso tem a ver então com o cinéfilo por trás do diretor? Foi em um de suas expedições aos filmes não-ficcionais, e a convite do British Film Institute, que ele realizou em 1994 o documentário Uma Viagem Com Martin Scorsese Pelo Cinema Americano para celebrar os cem anos da sétima arte. Neste documentário Scorsese mostra toda sua influênica do cinema americano. Grande prova de sua cinefilia.



Porém, não só de cinema americano é feito o arcabouço teórico e artístico deste cineasta. Grande estudioso do cinema, é grande apreciador do cinema europeu pós-guerra (Nouvelle Vague e o neo-realismo italiano), assim como cinema japônes e o Cinema Novo brasileiro. Grande conhecedor de cinema, Scorsese fundou em 1990 o Film Foundation organização que tem como objetivo resgatar grandes filmes da cinematografia internacional e restaurá-los, fazendo com que esses filmes possam inspirar toda uma nova geração de diretores. Dentre os filmes restaurados pelo instituto de Scorsese está aquele que é considerado por muitos o grande filme brasileiro, Limite (1931) de Mário Peixoto. Filme considerado por muitos anos um verdadeiro mito por diretores, críticos de cinema e cinéfilos do nosso país, pois quase ninguém da geração dos anos 60 e 70 tinham assistido esse filme completo. Esse fato tornou o filme uma lenda. Graças ao instituto de Scorsese temos de volta essa obra-prima do cinema brasileiro a disposição de novas gerações.

Scorsese é um fã declarado de Glauber Rocha e teve participação na restauração do filme O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969). Deixo-lhes abaixo com um depoimento de Scorsese acerca de Glauber Rocha e seu filme. Espero que seja proveitoso para todos.




segunda-feira, 22 de agosto de 2011

30 anos da morte de Glauber Rocha. "Glauber quem?!"

Hoje deveria está muito ansioso pelo dia de amanhã. O dia 23 de agosto de 2011 poderia ter entrado para minha biografia como o dia em que teria defendido minha monografia e, enfim, conseguido meu titulo de bacharel em Ciências Sociais. Porém, esse dia iria se tornar mais especial pelo fato de eu defender minha monografia, que tem como objeto de estudo o discurso político do Cinema Novo, coincidiria com os 30 anos da morte do cineasta Glauber Rocha. Sim, Glauber Rocha. Esse nome que é estranho para a maioria das pessoas da minha geração e, surpreendentemente, para muitas pessoas de gerações anteriores a minha. Mas quem é esse tal de Glauber Rocha?

Glauber Rocha é um baiano de Vitória da Conquista, que nasceu em 1939. Fã de quadrinhos de western, o seu imaginário também era habitado pelos jagunços de sua cidades, assim como pelas histórias de cangaceiro. Espírito inquieto, Glauber sempre teve ansia de saber e de inventar. Jovem, ainda viaja pelo sertão baiano com seu pai, descobrindo historias de sua terra. Alfabetizado por sua mãe, Dona Lúcia Rocha, se tornou um ávido leitor. Quando chegou em Salvador, em 1947 fundou com amigos do colégio um movimento que mexeu com a cena cultural da cidade, as Jogralescas, que consistia em realizar montagens de poemas famosos. Para o cinema, foi um pulo. Em 1959, com 20 anos, realiza seu primeiro curta-metragem, "O Pátio". Aos 22, seu primeiro filme, "Barravento" um filme que fala a respeito de um vila de pescadores negros, abordando a penúria da condição dos mesmos, desvendando suas esperanças e suas crenças. Aos 23, realizou o filme que se tornaria sua obra prima, "Deus e o Diabo na Terra do Sol". Filme que se tornou um marco do Cinema Novo.

Cinema Novo, movimento de jovens cineasta de várias partes do Brasil que, reunidos na cidade do Rio de Janeiro, pensaram e defenderam a criação de um novo cinema nacional. "Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça". Por mais simples que possa parece esse lema, esta frase é carregada de peso e cunhou a história do nosso cinema. Pela primeira vez se tentava em nosso país criar uma estética própria para o nosso cinema. Se afastando do cinema hollywoodiano e dialogando com os cinemas do pós-guerra europeu, estes jovens cineastas marcaram seu papel no cinema brasileiro. Mas será que marcaram mesmo? Passado quase 50 anos da emergência desse movimento é incrivel como boa parte das pessoas que se admitem cinéfilos não conheçam nenhum filme deste movimento e, principalmente, deste cineasta. Grande intelectual e teórico do movimento, Glauber defendia um cinema para além do entretenimento. Defendia uma cinema que antes de tudo deveria ser tratado como um produto estético, antes de ser um produto comercial. Lógico que todos os cinemanovistas sabiam de que maneira o cinema se inseria na sociedade comtemporânea e realizaram vários esforços para romper as barreiras econômicas da produção e distribuição de seus filmes. Porém, sem dúvida alguma, sua grande herança foi deixar como legado verdadeiras obras de arte cinematográficas. Filmes como o próprio "Deus e o Diabo", "Vidas Secas", "A Grande Cidade", "O Desafio", "A Opinião Pública" e tantos outros buscaram conferir uma qualidade ao nosso cinema. Além da qualidade, os filmes possuiam uma dimensão ética. Denunciar o que se passava em nosso país, um país que queria se desenvolver, mas que ainda possuia problemas sociais. Políticos populistas e militares golpistas. Num momento que falar era crime. Lá estavam esses cineastas querendo que o seu cinema pudessem ser mais do quê uma hora e meia de passatempo, mas sim um ponto de reflexão acerca da condição do nosso país. O Cinema Novo foi uma experiência riquíssima e edificante da cultura brasileira.

Glauber Rocha foi seu principal teórico, incentivador e seu principal expoente, então por quê não o conhecemos? Por quê não se presta homenagem a um homem que defendeu a cultura brasileira? É difícil compreender o porquê. Hoje, quando se completou 30 anos de sua morte, não se viu uma nota sequer nos grande meios de comunicação acerca deste intelectual da cultura brasileira. Intelectual que deixou uma obra grande e riquíssima. Felizmente sua brava mãe tenta manter viva esta obra, levando em frente o instituto Tempo Glauber. Felizmente, vemos que suas obras ao pouco estão sendo recuperadas. O que precisamos, no entanto, era que se não deixasse morrer a história de Glauber Rocha, a memória de Glauber Rocha. Não podemos deixá-lo cair no limbo, no esquecimento. Assim como não podemos deixar de esquecer de Humberto Mauro,  Rogério Sganzerla, Leon Hirszman, Ruy Guerra, Luis Sérgio Person, Walter Hugo Khouri, Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Paulo César Saraceni, José Mojica Marins e tantos outros. Espero que possamos nos tornar um povo que saiba valorizar sua memória, para podermos criar uma identidade própria. Para encerrar deixou-lhes com uma frase do diretor Helvécio Ratton: "Aos olhos de um jovem que só viu cinema americano desde pequeno o filme brasileiro é que é estrangeiro"

 
Glauber Rocha (14/03/1939 - 22/08/1981)

Gláuber não está morto.



Hoje fazem, exatamente, 30 anos da morte de um dos maiores cineastas de todos os tempos: o brasileiríssimo Gláuber Rocha.
E não encontrei divulgada nota nenhuma a respeito desta data.
Acredito que devemos pensar no porque desse esquecimento... Será porque Gláuber possuía um caráter ímpar nas suas reflexões artísticas intensas , mortais e cheias de vida e que assustaram e assustam muitos hoje? O Gláuber era um cara escroto? Sim, era complexo, um chato, um gênio, um louco, mas sobretudo um corajoso representante da cultura brasileira e ainda mais num período tão massacrado pelos internacionalismos.
Lembremos de muitos artistas de onde quer que os mesmos sejam. Eu acredito que seria bom lembrar de um Gláuber também ao invés de gastar páginas excessivas com a Amy Whinehouse.