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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Nebraska - 2013

Um dos nove filmes concorrentes ao Oscar de Melhor Filme, "Nebraska" nos apresenta  história do mecânico aposentado, Woodrow "Woody" T. Grant (interpretado brilhantemente por Bruce Dern), que acredita ter sido sorteado com um prêmio de um milhão de doláres. Para tanto, precisa retirar o dinheiro pessoalmente na cidade de Linconl, Nebraska. Logo de início, o filme nos deixa claro que essa história não passa de uma fantasia de Woody, pois o "prêmio" que ele tanto acredita ter ganho não passa de merchandising barato de uma editora de revistas.




Aposentando e com um histórico de abusos de álcool, Woody é tratado por sua mulher, Kate Grant (June Squibb) e seus dois filhos, Ross (Bob Odenkirk) e David (Will Forte) como um estorvo, sendo um exemplo de mau marido e de péssimo pai. Depois que ele começa com a história do prêmio, o coro dentro de casa é que se envie ele para um asilo, apenas o seu filho mais novo, David, resiste a ideia de ver seu pai em um local como este. Apesar de toda a descrença de sua família, o personagem principal não desiste do seu "prêmio" e já que sua família, a princípio, não concorda em levá-lo e como ele não pode dirigir os 1100km que separam a cidade de Billings, em Montana, onde mora, até Linconl, Nebraska, onde supostamente receberia seu milhão, pois não tinha licença para dirigir, Woody tentará de toda sorte para chegar ao seu destino. Depois de algumas tentativas, David decide ir com o pai até Nebraska. Não por quê acredita na história do pai, mas sim por quê viu que seria a única maneira de fazer o pai entender que não haveria prêmio nenhum.

Como todo road movie o filme faz uma paralelo com o ato de se deslocar de um ponto ao outro na geografia real, para desenvolver também os personagens, levá-los de um postura à outra dentro do filme. Se no inicio vemos uma família que tende a tratar Woody com um certo desprezo, ao longo do filme e dos fatos que se desenrolam cada personagem vai mostrando sua verdadeira face e sua afeição ao patriarca. A importância do ato de deslocar-se fica claro com o intinerário da viagem e onde se desenrola os fatos do filme. No início da trama, temos a cidade de Billings como nosso ponto de partida, onde somos apresentado a trama inicial, e também, logo de cara somos apresentado ao nosso ponto de chegada, o estado de Nebraska, onde Woody espera receber seu milhão, porém toda a trama se desenvolve na cidade de Hawthorne, cidade-natal do nosso personagem principal. Depois de uma noite de bebedeira, Woody cai e consegue um corte feio na testa, impedidos de continuar a viagem até que ele se recupere, o filho leva o pai até sua cidade-natal para visitar os seus tios, velhos amigos e também onde sua mãe e seu irmão se juntariam a viagem. É nesse ponto que somos apresentados ao verdadeiro sentido do filme.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

"A Opinião Pública"



Muitos não sabem, mas antes de se tornar comentarista político do “Jornal da Globo”, Arnaldo Jabor construiu uma carreira como cineasta. Um dos fundadores do Cinema Novo, lançou filmes que entraram para a história do cinema brasileiro, como “Toda nudez será castigada” (1973), “Eu sei que vou te amar” (1986) e o mais importante deles, a sua estreia em longas-metragens, o documentário “A opinião pública” lançado 1967. O objetivo deste documentário era lançar um olhar sobre a classe média brasileira. A escolha do “objeto” a ser analisado representou uma novidade interessantíssima na produção cinematográfica brasileira da época, pois os grandes filmes nacionais lançados até então sempre retratavam minorias sociais, como moradores de morros (“Rio, Zona Norte” de 1955 e “Cinco Vezes Favela” de 1965), retirantes (“A Grande Cidade” de 1966) ou o sofrimento do nordestino (“Deus e o Diabo na Terra do Sol” de 1964, “Vidas Secas” de 1963, “O Fuzis” de 1964). A idéia central do documentário era fazer com que a classe média, principal público consumidor dos cinemas, visse a si mesmo na própria tela e pudesse lançar um olhar crítico para si mesmo. Para realizar seu objetivo, Jabor filmou por meses a vida de moradores do bairro de Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro.

Logo no início do filme, enquanto a tela está toda preta, escutamos uma voz em off proferir: “O filme a que vão assistir foi rodado na cidade do Rio de Janeiro. Tudo que verão na tela é absolutamente verdadeiro. A câmera captou os fatos no momento em que aconteciam. Não há atores nesse filme. Veremos aqui as pessoas reais, em suas vidas reais. Nossos amigos, vizinhos, contemporâneos, nós os habitantes comuns de uma cidade da América latina. Nós, os homens da classe média. A classe que os altos poderes do país costumam chamar de a opinião pública”. Essa narração em off vai nos revelar dois  aspectos do filme. O primeiro que eu gostaria de destacar é o fato de o diretor revelar logo de cara que o filme se comunica diretamente com a classe média. Não apenas se comunicando, mas criando uma empatia com o espectador/objeto de análise. Reparem que nessa fala o narrado sempre se refere “a nós”, se colocando como mais um representante da classe média, desse modo, o diretor pretende conferir a sua análise um status de neutralidade ideológica, pois, ao se colocar dentro desta classe, toda e qualquer crítica que será levantada no filme recairá também sobre os próprios realizadores do filme, representantes da classe média que são. Dito isso, o segundo aspecto que essa primeira fala vai nos revelar é o modo como a estrutura do filme será montada e desenvolvida: a voz em off funciona como a voz da verdade (lembrem-se da fala inicial do narrador: tudo que verão na tela é absolutamente verdadeiro), todas as intervenções do narrador servirão para explicar, informar e esclarecer o espectador sobre quem é e o que pensam as pessoas da classe média; as imagens, nesse caso, servem apenas para legitimar as intervenções do narrador. Nesse documentário a imagem fica em segundo plano, o importante é que o espectador compreenda as idéias lançadas pela voz do narrador, detentor da verdade. Desse modo o filme cria em torno de si um caráter de análise sociológica. Não é de se espantar, já que a idéia do filme surgiu do livro de um sociólogo, o norte-americano C. Wright Mills, chamado “White Collar: The American Middle Classes” (1951).

Depois da advertência do narrador o filme de fato inicia. Vemos o letreiro do filme, o nome da equipe do filme, algumas imagens em plano aberto da orla, depois imagens de edifícios residenciais enquanto uma música é tocada ao fundo. A câmera adentra um dos edifícios e enquanto somos guiados pelo diretor através dos corredores do edifício o “narrador/detentor da verdade” diz: “Tudo que verão aqui é típico. Fugimos do exótico e do excepcional e procuramos as situações, os rostos, as vozes, os gestos habituais. Isto por que, refletidas numa tela, as coisas que parecem comuns e eternas se revelam estranhas e imperfeitas. Começamos com uma turma de jovens de Copacabana. Perguntamos sobre o futuro”. Então somos apresentados ao primeiro grupo da classe média analisada pelo filme: a juventude. A cena na tela um grupo de cinco rapazes tentando fazer com que um deles, em especial, responda a esta “simples” pergunta lançada pelo diretor/narrador. A cena prossegue por mais de dois minutos e meio e nenhum dos rapazes consegue dar uma resposta sobre o que pensam do futuro.  E assim o documentário segue durante várias sequencias, mostrando cenas cotidianas de jovens, na escola, na praia, no bar, onde sempre a juventude é apresentada como um grupo de pessoas superficiais, risonhas etc.