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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O Hobbit: A Desolação de Smaug (2013)



"Repete alguns erros do primeiro, mas retira a infantilidade da narrativa e parte para um viés mais sombrio e mantém o apuro visual. Erra em surgir com um romance piegas entre raças diferentes e peca na desastrosa construção do poderoso idiota Smaug



Filme dirigido por Peter Jackson     NOTA: 6,0


Segunda investida (a quinta de 2001 pra cá, isso em datas de lançamento) cronológica na saga de Jackson em relação a obra de Tolkien. Continua a irregularidade do anterior suplantando erros do anterior mas, cometendo outros novos, dois deles bastante idiotas.


Continua a saga do anão Thorin e seus comparsas tampinhas valentes pela Terra Média em busca da revalidação de sua morada tomada pelo dragão ganancioso e escroto. Agora com a esperada cena de aparição de Smaug.

Sequência igualmente arrebatadora na parte visual (embora já comece a se repetir um pouco mais que o esperado em alguns planos) e falha em termos de narrativa. Longa demais na jornada na parte da ação e não no desenvolvimento dos conflitos dos personagens, ponto de erro já existente no filme anterior. Personagens inúteirs em termos de narrativa desfilam em tela. Porra Beorn é excelente visualmente, mas não acrescenta em quase nada na trama. "Ah mas no livro tava igual e foi bem adaptado", isso não vem ao caso. Minha análise aqui é do filme. Não li O Hobbit. SDA li e Tom Bombadil é inútil para colocá-lo no primeiro filme e Jackson acertou ao não usá-lo. Pelo menos a sequência de Beorn fora usada (e não fora longa mediante que mal há ação na mesma talvez, vício de Jackson nestes novos longas) para frear a perseguição dos orcs aos anôes e propor outra entrada narrativa, a dos elfos.

Novamente o combate exagerado dos anões contra aranhas gigantes mostra como Jackson se viciou no exagero após King Kong (ainda que eu ache este um ótimo filme dele). De interessante fica o crescente uso do Um anel por parte de Bilbo, onde já começar-se-ia a mostrar o quanto este artefato o modificaria futuramente. Então entram em cena de maneira visual magistral como sempre os elfos. Logicamente trocas de farpas anunciadas são postas em pauta, e características já claras a estas raças como a teimosia rancorosa dos anões e a condescendência dos elfos. Aqui um dos erros idiotas que citei acima começa a se construir: a relação amorosa platônica forçada entre uma elfa e um anão. Uma tentativa de unir as diferenças pelo amor, que valida tudo, em prol do respeito ao diferente. Porra se não fosse construído de forma tão piegas e previsível quem sabe. Aqui vejo uma tentativa de criar uma relação amistosa entre dois seres de raças diferentes assim como fora concatenado com sucesso em duas oportunidades em SDA com Aragorn e Arwen e a amizade de Legolas com Gimli. Esta última sim excelente e construída mediante o caráter histórico aspero de suas tribos uma com a outra onde a amizade suplantaria tudo isso. Agora este romance em a desolação de Smaug beira o ridículo. Brega (na pior acepção da palavra) é pouco para este pseudo-relacionamento. Tauriel (Evangeline Lilly ) e sua busca por seu queridinho Kili na caça dos orc aos anões após a fuga destes últimos pelo jugo dos elfos, serve somente para introduzir um ríspido Légolas na ação (outra esperteza de Jackson visto as possibilidades na ação de um personagem tão querido pelos fãs e tão já bem utilizado na primeira trilogia). 

Em termos visuais o filme mantém um alto nível de qualidade e agora partindo para um lado mais sombrio da história assim compondo elementos mais intensos e menos infantis que no primeiro longo, algo que soa positivo mediante a bagagem infantilóide em demasia do primeiro filme. Esta atmosfera mais séria vai crescendo mediante a proximidade dos anões à chegada na montanha e ao encontro com Smaug. Ab termos de construção de personagens Jackson mantém o tom em Bilbo fazendo-o mudar seu caráter mais tímido pouco a pouco, enquanto que Thorin ao adentrar na montanha rapidamente fica ganancioso (algo que ganharia contornos narrativos mais viciados no terceiro filme) ao contrário do líder grosseiro e audaz do primeiro filme que visa a honra dos anões. Aqui a tentativa do realizador foi repetir a performance qualitativa do crescimento do vício de Frodo com o anel em SDA. Mas aqui tudo ficara corrido por demais em seu final. No próximo filme esta seara seria levada mais a cabo. 

Gandalf separa-se dos anões para ir de encontro a um possível mal que ressurgiria. O crescimento de Sauron após a perda do anel é tratada aqui de forma bastante satisfatória onde há outro esperando encontro de Gandalf com o espírito de Sauron, ainda em reestabelecimento para o combate futuro numa citação clara e interessante e de bom encaixe com SDA. Tudo visualmente interessante e bem construído. 

As falhas narrativas do primeiro ainda incomodam, mas o aspecto mais sério que o crescimento da trama exige mostra-se bastante salutar, ainda com a entrada dos humanos na trama, principalmente na figura de Bard como líder rebelde contra as expropriações que seu povo sofre de seu líder bufão bem clichê. Aqui as relações e os elos entre humanos e anões são estabelecidos mediante a necessidade do desespero e bem construídos. Até haver o início do combate na cidade as bocas da montanha de Smaug entre anões e orcs e com a positiva intromissão dos elfos Legolas (sempre interessante no campo da ação) e Tauriel. Mas nada é alegria. Kili estaria ferido e quem além de sua médica salvadora elfíca poderia tirá-lo dessa? Continuação da pieguice e numa espécie de imitação do que Arwen teria feito quando salvara Frodo no primeiro SDA. 

A parte técnica continua estarrecedora com uma sublime direção de arte, fotografia e seus efeitos especiais primorosos como de costume. A direção aqui não compromete novamente (apesar dos repetidos planos gerais em movimento com personagens correndo pelas belíssimas paisagens da Nova Zelândia pareçam repetitivas em alguns momentos), nada que atrapalhe o prazer do acompanhamento visual da obra. Atenção a alguns planos-sequências de Jackson que beiram o espetacular como na exagerada, sim, fuga dos anõs dos orc dentro de barris em impressionante sequência de cair o queixo. Bem coreografada e cheia de excelentes efeitos e que põe por terra cenas de ação onde nada se entende como em filmes de outras séries como transformers. Aí vem o Smaug.

Smaug. Um personagem forte e visualmente arrebatador muito bem captado pela câmera de Jackson dando a entender todo seu poderio, pena que este dragão seja um idiota burro como uma porta. Risível por demais seu diálogo com Bilbo onde a analogia em relação à ganância humana via doença social personificada no dragão peca miseravelmente por seu simplismo imbecil. Um ser tão poderoso, e um dos mais perigosos da Terra média, se irrita facilmente com qualquer adjetivo proferido contra ele? A desculpa seria a ganância? A doença da pedra arken? A analogia acerca desta ganância? Isso me soou mais como uma desculpa de uma linha de filosofia de botequim que não se sustenta na narrativa e busca muletas para a própria existência. Um personagem de tal importância não deveria ser composto somente de burrice e frases feitas que não amedrontariam nem uma barata mais inteligente. O quanto é espetacular visualmente quase se equivale no contrário em sua pobreza matizada de seu discurso. Neste discurso Jackson tiraria a iditice do exagero do tom autoimportante do primeiro filme e jogaria nas costas de Smaug em toda sua verve do poderoso idiota.Tanto que diversos exércitos nunca conseguiram entrar lá, mas alguns anões com palavras odiosas ao Dragão iriam tirá-lo de lá? Fosse tudo baseado em uma estratégia mais inteligente tudo bem, mas desta forma beira o simplório. E ao fim? Que o Dragão de centenas de4 anos age como adolescente e parte para sua vingancinha e contra os humanos?! 

Não fosse o romance idiota entre Tauriel e Kili e o tratamento errôneo dado a Smaug (principalmente nesta última situação, que é situação chave ao filme) este seria o melhor da nova trilogia mediante alguns acertos gerais na construção do contexto e algumas cenas inspiradas e acertos de encaixe aqui e ali, aliás fosse Smaug um grande personagem, além do visual, este filme já estaria salvo. Do jeito que está mantém a irregularidade do primeiro. Uma pena. Fica como legado o apuro visual de sempre de Jackson mas com falhas (algumas grosseiras) na narrativas e na construção de alguns personagens.


Por Ted Rafael Araujo Nogueira