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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Boyhood (2014)



Propaganda pura. Somente. Um grande embuste moldado por uma pintura bacaninha. Simulacro de isenção das banalidades da vida como desculpa numa composição extremamente estereotipada. Grandiosidade do trivial? Cinema rotular, raso e superficial isso sim.

Dirigido por Richard Linklater
Nota 4

Por Ted Rafael Araujo Nogueira

Pela terceira vez contemplo o cinema de Linklater. A trilogia romântica dele desconheço, assisti e me diverti bastante com “Escola de Rock” (2003) e achei “Homem Duplo” (2006) interessante e intrigante, que agora estão parecendo mais pontos fora da curva diante do que se vê (isto a meu ver, pelo pouco que conheço do diretor, mas, principalmente pelo que é comentado de alguns de seus filmes envolvendo a passagem dos acontecimentos) diante dos experimentalismos com temporalidades propostos pelo diretor. Então chegamos a Boyhood. Filme que visa descortinar toda uma gama de situações vividas por uma família de classe média americana. Suas desilusões, seus acertos e erros, isto tudo partindo do viés e da visão de um garoto, onde tudo percorre pelos já tão falados 12 anos de processo filmado, que Linklater ambiciona transportar esta convivência familiar através de uma passagem pelos anos, considerados difíceis por alguns: da infância à juventude, como é dito no título. Os mais problemáticos (será?), onde o aprendizado de tudo a sua volta vai se transformando e moldando sua personalidade de forma atroz ou não.

O resultado de todo este processo ambicioso? Uma puta besteirada. Um embuste sem tamanho. Linklater usa dos mais variados artifícios vagos pra amenizar tudo o que propõe, desde a trilha sonora espertinha (muito boa em determinadas partes até) aos dramas forçados e chorosos da mãe, por exemplo. Ah mas alguns dirão que "a vida é um clichê", isto seria nada mais nada menos que uma desculpa esfarrapada como um simulacro de isenção para um roteiro extremamente rasteiro que resvala no óbvio sempre e usa isso como desculpa de que a vida é cheia de banalidades. Neste filme, diante da família que vemos, eu concordo que a vida é cheia de frivolidades e muitas, mas muitas frescuras mesmo.

Não estou nem entrando na seara de que minha experiência no mesmo período fora diferente. Faz parte isso na minha crítica? Sim. É difícil um distanciamento quando se faz uma crítica sobre um filme, qualquer um que se diga de passagem, ainda mais um que aborda majoritariamente o crescimento de um jovem, período que ainda me é próximo. Como a maioria que comentara sobre o filme neste e em outros sites, o filme nos faz compor algumas comparações sim, porém isso só me ajudou a vê-lo como uma bobagem superficial que aborda probleminhas da classe média americana chorosa e necessitada de atenção. Não é somente uma questão de diferenciação pessoal não, longe disso, o filme peca por problemas narrativos pesados pondo todo o tour de force na força da expressão do processo usado. Somente. A forçada de barra pra juntar tudo isso e angariar seu público chegar a ser descarada e risível. 

Classe média americana. Esta mostrada da forma mais genérica, imbecil e superficial possível. Porra se fosse uma crítica da parte de Linklater acerca das obviedades frívolas (conjuntura redundante proposital minha) nas quais a classe média dá tão idiota importância ás mais variadas coisas inúteis, tudo poderia ser mais interessante ao menos. Não escapa nem a repetição medíocre da comemoração do fim do ensino médio e a entrada na faculdade, isso sem que esqueçamos o choro da mamãe porque seus filhinhos vão pra faculdade. Porra tinha uma coisinha mais original não? Mas não. Aqui vejo uma ode a futilidade, as ditas dificuldades absurdas pelas quais a classe média no auge da pseudo-credibilidade auto-importante perpassa e transporta. Haja paciência (paciência mesmo já que são quase 3 horas desse besteirol choroso). Se a ideia de Linklater foi deixar o espectador entediado com uma vida melancólica e banal e sem emoção alguma, aí ele teria conseguido um fã, pois minha constatação foi exatamente essa. Antes fosse isso. Linklater expõe todos estes problemas de forma dialética, como se tudo fosse trivial pelas repetições nas vidas de muitos, mas mantém o tom de auto-importância (novamente) de como tudo aquilo interfere no caráter do personagem principal songa monga. Olha aí um dos segredos espertos desse embuste.

Personagens. Ethan Hawke como o pai (ausente, mas descolado, pra variar na criatividade farsesca de Linklater) tem boa atuação sim, ainda mais mediante o processo utilizado por seu diretor e compõe bem seu personagem, o melhor do longa, isto por a personagem de sua filha ter sido anulada com o passar dos anos. Até o discurso machista dele ao fim achei até autêntico (um tanto repetitivo, pra variar, mas não tão canhestro como quase todo o resto), isto sem entrar no contexto se é correto ou não, honesto ao menos o fora, mesmo assim, nada de grandes absurdos qualitativos novamente. O tratamento unilateral dado às mulheres no filme. A irmã de melhor personagem no início do filme vira uma muda tapada assim como seu irmão, como se todo adolescente por obrigação metodológica fosse problemático, idiota e melancólico. A mãe. Patricia Arquete está bem no papel. Forte e densa em talvez um das melhores atuações de sua carreira. O problema é o machismo torpe em que a personagem é construída. O lugar-comum machista absurdo e burro de que mulher não vive sem macho, isso nem por pouco tempo. E ainda tem outro clichê em cima, o do marido e padrasto bêbado (aliás, isso é reprisado, são 2 os bebuns). Porra o filme abusa desses, e de tantos outros, dos mais variados chavões pra justificar as banalidades da vida. Uma puta enganação. Agora Ellar Coltrane recebera o papel mais difícil. Toda a trajetória em cima dele. Essa figura faz o que pode, mas é quase tão apagado quanto seu personagem imbecil. Um adolescente chorão e melancólico. Porra até a fase emo o cara teve. Linklater se aproveita destes rótulos pra aplacar o coração de sua plateia, angariando fãs que fizeram parte dessa fase, de forma genérica. Idiotice pura. Outro bordão. Isto sem falar no avô ensinando o garoto a atirar, o anseio do jovem de ter um carro também. Sim e alguma coisa nova? Uma novidade que seja além de querer usar as muletas do método e a já citada obviedade da vida somente.

O filme foca espertamente na sensibilidade de muitos que diante de tantas características comuns que fazem com que várias pessoas se identifiquem. Esta gama de truques narrativos, a meu ver, simboliza a mediocridade da obra. Uma preocupação em angariar fãs talvez (como já fora dito aqui)? Ou então uma forma de justificar as faltas de originalidades apelando para o senso comum dos acontecimentos da existência. Esta questão abordada em demasia e da forma que fora traz o público para o seu colo doce e choroso onde aninham-se muitos sensibilizados com a vida de um adolescente sem graça numa conjuntura óbvia servida à mesa como um jantar do sentir mediante o amor familiar. Falcatrua. Filosofia barata pra justificar falta de estofo criativo. 

A única novidade louvável (louvável pela tentativa em si e por parte do todo) de Linklater é o processo e não o resultado. De fato tudo é até organizado e os anos passam de forma orgânica sem tanto se sentir no espectador, correto somente, nada de grandes arroubos narrativos como tanto se comenta. Uma boa montagem de tudo que deve ser comentada somente pelo ineditismo destes 12 anos a que os fãs e críticos morrem se referindo, mas nada que um diretor com um pouco mais de criatividade pudesse ousar mais e deixar tudo um pouco menos óbvio e idiota. O problema foi que aqui tudo se perdera nesse processo numa infinidade de alcunhas idiotas em uma trama superficial e de personagens extremamente repetitivos.

A sensação real que fica é de um projeto ambicioso que merece ser visto por pura curiosidade mórbida pela concatenação do processo apenas. As altas expectativas de um filme que faria algo de diferente pararam no seu processo, correto apenas. Uma colcha de retalhos bem costurada pelas mais variadas idiotices, propagandeada como filme simbólico de uma geração e uma ode ao sentir mediante a arte. Pura balela. Um filme medíocre no todo. Melancólico, chato, óbvio demais, entupido de voltas num amontoado de estereótipos poucas vezes visto nestes últimos anos. A banalidade na vida como personificação humana foi transposta simplesmente como a repetição do impalpável, óbvio e superficial que somente um cinema tão farsesco pode apresentar.