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domingo, 16 de março de 2014

15 minutos (15 minutes, 2001)

Força midiática, polícia investigativa, insanidade (?), cinema, televisão, jornalismo, assassinato, lei penal, código moral transtornado. Aqui são alguns dos temas utilizados por este grande filme policial do começo dos 2000, que, se tornaria, a meu ver, um grande expoente dos filmes do gênero. Pode parecer ingenuidade citar algumas palavras iniciais que adjetivem acerca das claras temáticas do longa como "cinema" e "assassinato" entre outras, porém a forma como o filme nos brinda com esses elementos levando-os ao escracho metalinguístico em forma de turbilhão imagético narrativo divertidíssimo fazem-se valer como citações logo de cara. Diretas. Assim como esta cria do cinema o faz. 

Não há nada de tão novo assim no front em se alfinetar a televisão e o próprio cinema, a hollywood de outrora já se permitira a isso em seus anos de ouro por exemplo. Porém aqui há uma modernizada em tais elementos, onde expõe-se a cultura do exagero das massas que regozijam-se na violência por meio de programas reality shows sensacionalistas manipuladores (denominação óbvia, porém nunca envelhecida demais). Manipulação esta anexada e concatenada por uma dupla de estrangeiros que viram como lucrar sendo assassinos fingindo psicopatia diante do American Dream e seus devaneios políticos, culturais e sociais. Onde a selvageria midiática é predominantemente cínica em seus mais absurdos pormenores, e estas personas encontram nela formas de subjugarem leis e destinarem-se ao sucesso.

A história gira em torno dos emigrantes Emil Slovak (tcheco interpretado por Karel Roden) e Oleg Razgul (russo por Oleg Taktarov) que buscam encontrar um amigo que lhes deve dinheiro mediante um roubo passado. Como o amigo gasta o dinheiro Emil o mata e sua esposa e incendeia o apartamento. O crime começa a ser decifrado pelo investigador dos bombeiros Jordy Warsaw (Edward Burns) e pelo famoso (participante de um reality show policial) detetive Eddie Flemming (Robert De Niro). Os crimes de Emil vão num crescer e seu pensamento de conseguir vencer diante da fama sobrepujando o sistema enganando-o projeta-se cada vez mais alto. 

A forma como Emil percebe a manipulação midiática é hilária, desde programas de fofoca e reconciliação amorosa ao estilo Sônia Abraão, à programas policiais biográficos que contam os crimes e vitórias de determinados criminosos que conseguiram burlar o sistema falseando uma inata loucura. A estranheza exposta por Emil, transforma-se em felicitação visto que o todo poderoso do capitalismo neo-liberal deixa para democracia profundos entraves jurídicos, que se permitem a coexistir e somar-se a vácuos morais. Isto é posto por todo o desencadeamento das ideias de Emil em que ele colhe diversos elementos para seu intento na própria cultura de massa americana, aprofundada em uma substanciação cultural escrota e controladoras das massas. 

TV. Órgãos estatais. Favores? A televisão, e seus meios, controla largas parcelas de opinião crítica social da população, onde diversos órgãos estatais buscam sua aprovação. Mesmo que seja ela para um maior nível de fundos que os sustentem ou para que o trabalho de determinado órgão seja facilitado através da exposição da mídia em certos casos, e, é claro, para ambos, que haja um clamor do público para um aumento estrutural de um pseudo-arraigado bem estar social transposto aos populares. Visando assim, de maneira mais condescendente, um apoio aos órgãos citados. Logicamente também do próprio sistema político. 

Sempre a manipulação sócio-cultural dos meios de comunicação é mostrada de maneira sarcasticamente responsável por determinadas idiossincrasias populares em quesitos de formadores de opinião. Opinião em que a política se mostraria pautada pela mídia, diante do que fora citado no parágrafo anterior nas preocupações de órgãos estatais com aparições positivas na mídia por exemplo. 

Todos esses elementos são jogados na tela onde a ironia das falhas do sistema criminal americano sejam propiciadas pela mídia, num círculo vicioso que mostra-se sibilante em 3 grupos: sistema político, mídia (principalmente aqui a televisiva) e população telespectadora. Que necessitam e persigam uns aos outros onde o último é manipulado pelos dois primeiros, que trocam favores através, entre outras coisas, do ibope poderoso que pode ser gerado pelo terceiro grupo. Buscas por votos e por dinheiro. Pura manipulação viciada. 

Tudo isso moldando-se em um caso policial extremamente bem conduzido pela direção de John Herzfeld, que modula sua dramaturgia a todo um mosaico político, social e cultural sempre mantendo um equilíbrio entre tudo que venha a acontecer. E com uma estrutura policial eficiente e não inovadora. O velho: descobriu/investigou/tragédia/fechou o caso. O grande lance aqui é ironizar o próprio gênero também, assim como todo o resto já o fora. Onde a morte de um personagem importante é refletida numa divertida piada metalinguística dita por Oleg Razgul: "Todo bom filme precisa de uma grande tragédia." 

Um elenco afiado desfila personas por vezes bidimensionais, por vezes somente tresloucadas, e sempre cumprindo um papel na participação ao clima sarcástico perpetrado pelo longa. Robert De Niro aproveita a brincadeira com seu policial midiático Eddie Flemming onde o contraponto nervoso e explosivo de Edward Burns como Jordy, se encaixa de maneira bastante positiva. Há um destaque formidável a dupla de vilões, onde a sagacidade cruel de Emil se une ao divertido new film-maker de Oleg Razgul, que ironiza a sétima arte com sua câmera nervosa e com seu vício pelo cinema americano.

Como comentário técnico destaque a ótima e frenética edição, que consegue expor toda a gama de elementos diversificados sem causar uma grande confusão e mantendo-se certeira e direta na ação. Outros quesitos como fotografia, som e trilha sonora atuam discretamente sem contra-indicações. 

Policial, diferente, político, pequeno louco, sacana e extremamente divertido. 15 minutos. Pra cada um que busque os seus na terra da liberdade.

Nota 9

Por Ted Rafael Araujo Nogueira