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domingo, 16 de março de 2014

Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013)


Nada de novo front. Vamos a alguns motivos para tal. Robôs construídos para uma luta contra alienígenas "godzilianos" onde a tecnologia (novamente) capitaneada pelos norte-americanos venha a salvar o mundo. Aqui jaz a sinopse. Até que se o longa por acaso possuísse uma boa direção, não abusasse de um amontoado de clichês e tivesse efeitos melhores (minimamente mais contundentes na visibilidade dos mesmos pelo menos), poderia ser um bom filme. Poderia. 


Mais óbvio que este roteiro impossível (pelo menos muito difícil). O que houve aqui? Arremedos de personagens transpostos em tela em diversas composições de frases feitas e ditando justificativas batidas (caso existam e quando as mesmas ocorrem seriam: vingança, senso de dever inabalável) onde a força desmedida (e descerebrada) vence qualquer (por mais primitiva que seja) inteligência (pelo menos na saga dos Mercenários a farra humorística é explicitada desde o começo, por exemplo). Colocar russos e orientais como coadjuvantes mudos seria nada mais nada menos que um mero silenciador renitente por sobre aqueles que venham a reclamar da americanização dos heróis como o há em Armaggeddon (1998 - Michael Bay) por exemplo. Não deu certo. Aliás, pouca coisa realmente se salvara. 

Há vários elementos mais específicos onde se primara pela inércia criativa ou mera incompetências que citá-los-ei. Como reconstruir muralhas enormes mesmo após os Kaijus as destruírem com uma certa facilidade? Isso seria um teste a inteligência do espectador? Além desses clichês (e talvez alguns outros esquecidos, porém quase esqueço do infantil cientista cômico) há pequenos erros que venham somente a somar a falta de esperteza (de bom senso pra dizer o mínimo) da equipe criativa. Como por exemplo, já perto do fim, um jaeger é erguido num vôo por um kaiju numa velocidade constante e que 3 tomadas depois o jaeger se desprende e cai a uma altura inimaginável visto o tempo que os 2 teriam subido. Erro de continuidade básico ou falta de boa vontade de minha parte? Além do fato que alguns jaegers (bastante pesados pra dizer pouco) seriam transportados por uns 3 ou 4 helicópteros. Grandes helicópteros, que beleza. Tanto em estrutura geral quanto em pequenos detalhes narrativos o filme peca primorosamente, onde tudo nos força a aceitar (não somente uma inverossimilhança) uma história acéfala e sem elementos que no mínimo a tornassem digna de empatia.

Referências negativas e positivas (minoria). Como algo de positivo, alguma pálida homenagem aos samurais japoneses vistos em filmes como 7 Samurais (1954 - Akira Kurosawa), Yojimbo (1961 - Akira Kurosawa), para citar alguns, no que tange há algumas atitudes em combate dos jaegers e numa forçada honradez de sacrifício do general unidimensional que morre heroicamente dentro de um clichê clássico já visto em Independence Day (1996 - Rolland Emerich) entre outros filmes. Homenagens que visam enaltecer antigos filmes (muitos desses até mais contemporâneos. Até séries como Power Rangers podem ser mencionadas) mas que permanecem como muletas frágeis de um roteiro preguiçoso que busca compor todo um caráter imagético catártico sobre o espectador diante da exibição de tudo, e que (onde) o consegue, consegue de maneira constrangedora e descartável deixando o expectador, por vezes, olhando ao relógio a contar o tempo para retirar-se desta experiência. Até a relação do soldado revoltado com a vida e com papai também existe. E o pai desse cidadão, porém, logo após a morte de seu filho o mesmo dispõe-se a se preocupar mais com outro soldado que ele nem conhece e quase esquece o filho morto, realmente a relação entre pai e filho não era boa. Pena. Assisti ao filme uma única vez e pretendo continuar assim, por isso minha crítica, por vezes, venha a visar mais elementos esparsos do que o próprio em si por achá-lo quase que inexistente no que seria minimamente necessário a padrões de qualidade que me presto a julgar.

Segue novamente o velho heroísmo idiotizante salvacionista de papelão (uma frase feita em homenagem ao filme) que permeia os discursos de peitos estufados onde a raça humana sempre prevalecerá e onde o American Dream nunca será desvanecido. Se a catarse for embasada no tédio e no farsesco terá dado certo. 

Como já fora mencionado, o roteiro extremamente esquemático (simplista é um grande elogio caso eu o fizesse) poderia ser camuflado por uma boa direção, porém Guillermo Del Toro prima pela falta de originalidade (quem diria depois de seus bons e cultuados filmes) no (já) velho abuso de cortes em sua montagem (pra citar umas negativas) e (principalmente) da proximidade dos planos em cenas de batalhas onde quase nada é entendido como nos Transformers (2 - 2009 - e 3 - 2011 - principalmente. De novo o cinema de Michael Bay). Onde não conseguira em momento algum desviar as grandes falhas deste roteiro a uma direção minimamente correta ao menos. Este quesito compõe-se mais como outro elemento onde se parece transpor uma preguiça, que ao invés de uma (sonhada) busca por um visual repaginado (no mínimo) além de uma história (não que fosse crível) que causasse algum interesse, simplesmente mantém-se a mesmice cansativa. 

Alguns efeitos se salvam com belas imagens dos jaegers e kaijus mas somente quando estão parados e visíveis , coisa que pouco acontece. Alguns planos de Hong Kong devem ser lembrados aqui e ali, mas é pouquíssimo para uma produção que prima demais para a parte técnica, onde nem na mesma se salva por completo. Como excelência vale-se somente pela trilha sonora original, bem feita e empolgante, sem ela o filme conseguiria ser pior do que já o é (o que é difícil, mas possível). A última qualidade seria o visual dos kaijus relembrando antigos filmes do Godzilla e outros monstrengos sessentistas, inicialmente fora esse caráter que viria a despertar minha curiosidade inicial acerca do filme, porém meus anseios caíram por terra por conta de tantos defeitos nas mais diversas áreas. 

Enfim uma miscelânea desorganizada, onde acredito ser de uma boa vontade exacerbada uma busca por encontrar referências inteligentes e devaneios orientais ao que se experiencia, o que na verdade apenas transparecem elementos, dos mais fáceis e de mera ilustração temática, da série Power Rangers, filmes do Godzilla, Independence Day entre outros. Onde aqui é bem pior a tudo que se inspira. Até deu saudades do Godzilla de borracha (nem falo do primeiro que é um clássico sério, mas das continuações mais trashs mesmo). Parece mais um filme de encomenda para adolescentes do que uma obra autoral (o que, logicamente não é novidade e seria até esperado em âmbitos gerais). Voltem monstros de borracha.

Nota 3 (pra ser gente boa)

Por Ted Rafael Araujo Nogueira